terça-feira, 19 de dezembro de 2023

A importância visual dos pormenores

 

A direita mediática anda sempre atenta a todas as imagens, que possam pôr em causa quem detém o poder e entende serem os seus ódios de estimação. Há uma dúzia de anos foi viral a imagem de José Sócrates a perguntar a um assistente se estava visualmente bem antes de iniciar uma conferência de imprensa. E o que o punha em causa era a suposta artificialidade da imagem a transmitir.

Embora não sejam de esquerda, Angela Merkel ou Joe Biden também mereceram essa atenção viral das direitas mais extremas, que prodigalizaram imagens das tremuras da primeira ou dos sinais de velhice do segundo. O tropeção de Biden a subir a escada para o avião presidencial, a cair de bicicleta durante um passeio, ou a necessitar da ajuda da mulher para vestir o casaco num aeroporto do Kentucky, visam facilitar uma possível vitória de Trump nas eleições americanas do final deste anos a pretexto da sua suposta senilidade.

Não admira que Pedro Nuno Santos dê conta da atenção aos pormenores na gestão da sua imagem sabendo que, se a de Montenegro é má, nenhum jornal ou televisão a enfatizará para o prejudicar, ao contrário do que logo farão se lhes der oportunidade para tal. Explica-se assim que, durante a campanha para a eleição de secretário-geral, acontecesse aquele momento em que pediu uma garrafa de água pequena, porque seria negativa a imagem ao verem-no a beber pelo gargalo de uma garrafa de litro e meio.  Seria certa a fotografia na primeira página de um qualquer tabloide, logo reproduzida pelas redes sociais até ao vómito, se a tal lhes desse azo.

Mostrando a intenção de fazer tudo bem, Pedro Nuno Santos revelou a importância dada aos mais ínfimos pormenores, passíveis de serem utilizados pelos detratores para o diabolizarem. É que, mesmo não se sabendo ao certo quem inventou a frase, e metaforizando conceitos que um ateu obviamente rejeita, deus e o diabo só poderiam estar escondidos nos mais anódinos detalhes.

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