1. Sempre foi uma das mais execráveis atitudes a que assisti na longa vida profissional: a tendência de quem deveria liderar em sacudir a água do capote atribuindo a outrem as responsabilidades que se suspeitam ser as suas.
Nos últimos dias vimos essa cobardia a ser levada a um extremo impensável: se Marta Temido ter atirado para os secretários de Estado as decisões, que lhe queriam imputar, entra na lógica do expectável, ter um pai a fazer o mesmo com um filho já é algo que não poderia esperar por ir além dos limites do crapuloso. Como escrevia Carmo Afonso hoje no «Público» “Marcelo tem dois pesos e muitas medidas”.
Nunca o conotei com padrões éticos particularmente aceitáveis - e por isso nunca mereceu o meu voto! -, mas não imaginava ficarem a um nível muito rasteiro quando tão exemplarmente demonstráveis. Porque ainda temos na memória a sua preocupação com a “responsabilidade, confiabilidade, credibilidade e autoridade” dos governantes, quer no que fizessem, quer naquilo em que se revelassem omissos.
Depois do sucedido ainda se acha em condições para levar o mandato até ao fim, quando, ainda há dias, teve o ex-aluno a dar-lhe exemplo do que se espera quando se está posto em xeque?
2. Expectáveis foram as conclusões da Comissão Independente sobre a localização do novo aeroporto de Lisboa. Alcochete é, para quem analisa os argumentos com um mínimo de isenção e sensatez, a melhor escolha. Tal qual Pedro Nuno Santos decidira - e bem! - há um ano e meio atrás.
Infelizmente desautorizado e condenado a uma via sacra, que está prestes a findar, pode lamentar que o país tenha perdido um tempo precioso e gasto mais dinheiro nos sempiternos estudos.
Há alguma dúvida que estamos a precisar de quem não tem medo de tomar as decisões, mesmo que conduzam a feitos, que não se revelem totalmente perfeitos?
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