1. Será que o texto impressionante da advogada Paula Lourenço inserido na revista da sua Ordem estará destinada a cair no esquecimento?
É que compreende-se mal (ou bem demais!!!) como as críticas de Mário Soares ao juiz responsável pela detenção de José Sócrates mereceu reação violenta do sindicato dos magistrados - até com ameaça de perseguição judicial-, e a denúncia factual do comportamento fascizante desse mesmo super alexandre apenas suscita silêncio.
Para que serve então uma procuradora-geral da república - que deveria ser irrepreensível na defesa dos princípios de justiça dos seus subordinados - quando se mostra cúmplice (ativa ou passiva não o sabemos!) dessa mesma deriva fascizante do ministério público?
É contra tal estado de coisas, que um confesso comentador de direita, Pedro Marques Lopes, se insurge no «Diário de Notícias»: “Se o texto que a advogada escreveu não levar a um agitar de consciências, se tudo ficar na mesma, se os responsáveis políticos não questionarem o estado de coisas, estamos com um problema muitíssimo maior do que imaginávamos.”
2. João Ramos de Almeida relata o debate tido no facebook a propósito de um artigo emotivo de eva gaspar no «Jornal de Negócios» em que ela defendia a posição de passos coelho relativamente às propostas do Syriza.
O blogger do «Ladrões de Bicicletas» constata que existe uma reação destemperada dos defensores da austeridade custe o que custar, por sentirem-se sem consistência de argumentos sólidos para contrariarem a realidade que os está a desmentir continuamente: “O que é interessante é que este tipo de debates – cegos e militantes – são próprios de momentos de revolução ou de viragem social, em que todas as armas – mesmo as mais pobres - são usadas com a emoção do combate, quase raiva, em que a eficácia que se pretende ter nada tem a ver com o que se diz. Apenas lutas de trincheira. Quando se fala de "algumas esquerdas" nem se está a pensar na esquerda grega, mas nas esquerdas nacionais. E quando se fala da crise grega, está a tentar impedir-se o seu contágio a Portugal. É essa meta-discussão que transtorna um debate sério, porque a emoção primária vence a vontade de pensar.“
3. É essa mesma evidência do falhanço da receita austeritária, que leva o editorialista do «Público» a reconhecer a redução cada vez maior do campo pró-austeritário a um punhado reduzido de fanáticos cercados pelo avanço imparável da realidade: “A austeridade teve a sua oportunidade e falhou, dizem números, estudos e testemunhos de gente insuspeita de cedência a esquerdismos, um pouco por todo o mundo. Entre nós, basta ouvir Manuela Ferreira Leite ou ler o surpreendente ensaio de Vítor Bento, conselheiro de Estado e primeira escolha de Passos Coelho para ministro das Finanças, para se perceber que é preciso repensar o modelo europeu.”
4. Para passos coelho e os seus indefetíveis a única esperança quanto a não serem destroçados nas próximas eleições reside numa certa arte de ser português, que Manuel Carvalho retrata no «Público» como se fosse inevitável: “A sorte de Passos e o azar dos que lhe pedem uma mudança brusca no seu trajeto político é que a maior parte dos portugueses não é dada a estados de alma que os levem a trocar o certo, por medíocre que seja, pelo incerto, por brilhante que possa ser. O discurso da modéstia (ou do medo de existir) cola bem com um país que já se dá por feliz em ser remediado. Passos salvou-nos da bancarrota como outrora Salazar nos salvou da guerra. E isso vale muito mais em termos eleitorais do que os bons princípios e as boas intenções dos cidadãos e cidadãs que perderam tempo a escrever-lhe uma carta para a qual já sabiam a resposta.”
Às vezes este jornalista do «Público» mais parece exprimir a sua inconfessável vontade em que seja assim, do que reconhecer a dinâmica transformadora dessa mesma portugalidade...
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