1. Falemos então de negociações. Se elas estão sempre presentes no contínuo jogo de forças, politico e económico, que caracteriza a arena internacional, ainda se tornaram mais mediáticas com as que têm estado em curso para resolver a crise na Ucrânia e a escusa grega a manter a austeridade a que tem sido obrigada.
Porque tem andado ocupada com a primeira e a querer fugir com o rabo à seringa à segunda, angela merkel arrisca-se a reconhecer a importância de uma das regras, que parece ter esquecido: que uma negociação só chegará a bom porto se as duas partes colherem benefícios do que acordaram.
Nos últimos anos merkel esteve demasiado habituada a dar ordens aos países da zona euro, sem que lhe fizessem frente, para que reavivasse essa lição. E agora a realidade vem banhá-la precisamente nas duas frentes.
O acordo de Minsk não foi a vitória esperada: Putin tem maiores motivos de regozijo do que quem com ele negociou um cessar-fogo condenado ao fracasso.
Quem esperava que, acossado pela crise económica por que passa a Rússia, ele abandonasse os separatistas do leste ucraniano, esqueceu-se das idiossincrasias de quem vive nessa vasta região do mundo. Como se viu em Leninegrado ou em Estalinegrado, o povo russo tem uma notável capacidade de resiliência, mesmo nas condições mais difíceis, para evitar que velhos e novos teutões avancem pelas suas estepes.
E quem está em maior aperto são os golpistas de Kiev, cuja bancarrota anda a ser iludida a balões de oxigénio e já andam a fazer contas a propósito do enleio em que se enlearam: é que os credores exigem que ainda apertem mais o cinto aos ucranianos para continuarem a subsidiar-lhes o fornecimento do armamento. Ora, como será possível ainda agravar a qualidade de vida de quem julgava chegar aos padrões europeus só com uma viragem revolucionária e sofre dificuldades bem maiores do que as anteriores?
E quanto à Grécia merkel prepara-se para outro inevitável recuo por mais que tenha saído da Cimeira de Bruxelas a invocar o primado das regras sobre a sensatez das propostas de Tsipras.
Que já nem Jeroen Dijsselbloem acredita numa maior flexibilidade grega aos odiados ditames da troika, assim o demonstra a ordem para ir negociando os pormenores técnicos, que irão alicerçar o acordo político de segunda-feira. E o BCE aumentou para 65 mil milhões de euros o valor da linha de emergência a ser utilizada pelo Banco Nacional da Grécia para responder aos compromissos de curto e médio prazo.
Na próxima semana lá veremos cavaco a silenciar-se em Belém depois das atoardas proferidas esta semana e passos coelho a arranjar truques semânticos para iludir o facto de ter visto os gregos alcançar aquilo que não se esforçou minimamente por exigir para os portugueses.
2. António Costa esteve em Bruxelas para participar, como convidado, na reunião dos líderes socialistas com funções governativas na União Europeia e defendeu uma negociação assertiva com os novos dirigentes gregos. Com uma fundamentação irrefutável: “depois de três anos de experiência, há um resultado muito claro: a austeridade fracassou do ponto de vista político e fracassou do ponto de vista económico. Do ponto de vista económico, gerou deflação e gerou desemprego; e do ponto de vista político, só tem vindo a fortalecer os radicalismos”. Por isso mesmo “não há uma questão grega. Há uma questão europeia e que deve ter uma resposta europeia, e essa resposta deve-se centrar, em primeiro lugar, numa resposta positiva às situações de catástrofe social que se vivem em vários países, e em particular nos países sujeitos ao ajustamento, como acontece na Grécia, como acontece em Portugal, como acontece em Espanha.” (…) “O conflito na Ucrânia e a situação no Médio Oriente exigem um reforço da coesão europeia, exigem uma Grécia de pleno direito na UE.”
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