Esta foi a semana em que a máquina de propaganda do governo andou a querer explorar até à exaustão a ideia de se ter iniciado a curva ascendente da recuperação da economia portuguesa depois dela ter batido no fundo, não por culpas próprias, mas pela tal pesada herança em que já poucos acreditam. No «Expresso» Alexandre Abreu colocava os supostos 0,9% de crescimento em 2014 no seu devido contexto: “Não importa que esses 0,9% não cheguem sequer a compensar a contração de –1,4% registada no ano anterior, ou que o saldo acumulado desde que o Governo entrou em funções em 2011 ascenda a uns sombrios –5%.”
Uma das consequências mais evidentes dessa significativa perda de riqueza é identificada pelo escritor Miguel Real numa entrevista cheia de ambiguidades, dada a São José Almeida no «Público». Mas o que ele diz neste extrato é indubitável: “Portugal desenvolveu um imenso sentimento de medo em relação ao futuro (…). Uma insegurança terrível quanto ao futuro. E deixou de sonhar, de criar utopias, o que é absolutamente necessário para nos orientar a longo prazo na política.”
A capacidade de voltar a sonhar, eis o que milhões de europeus acossados pela austeridade imposta pelo schäuble e seus cúmplices, almejam. Algum povo recupera confiança e energia se não lhe derem a expetativa de construção de um futuro mais risonho do que este baço presente?
Mas, além de sonhar, os povos têm de sentir-se protagonistas do que vivem, já não bastando as eleições onde comummente são convidados a votar maioritariamente em quem não deveria merecer a sua confiança. Por isso mesmo Varoufakis foi tão incisivo na forma como devolveu á Grécia a oportunidade de se tornar “coautora das suas reformas e do seu destino”.
É essa possibilidade de um país protestar, exigir, reclamar e conseguir um resultado que não é pior do anterior, a enervar tanto passos coelho e maria luís albuquerque. E a resultar naquele espetáculo indigno daquilo que, muito oportunamente, Jerónimo de Sousa qualificou de “emplastro”. Porque, como escrevia Manuel Carvalho, “um roto a dizer mal do esfarrapado é, como se sabe, um episódio sempre deplorável.” Mas que logo se replicaria durante a decisiva reunião do Eurogrupo.
António Costa até foi bastante comedido, quando qualificou de perplexidade a atitude perante a atuação anti grega de Portugal quando se exigia assertividade: “Qualquer português fica perplexo quando vê as notícias no final do Eurogrupo e percebe que o Governo português, em vez de querer que os portugueses e a economia portuguesa beneficiem da flexibilidade da austeridade, quer aumentar a agonia da austeridade dos outros.”
Mas ao participar na reunião dos socialistas europeus, o futuro primeiro-ministro de Portugal terá constatado o impasse em que ainda incorrem por ainda não terem resolvido o desafio ideológico em que se encontram e muito bem definido por Teresa de Sousa: “Os Syrizas existem porque a social-democracia ainda não conseguiu encontrar uma agenda que faça sentido num tempo em que deixou de poder recorrer aos impostos para garantir uma redistribuição da riqueza mais equitativa e em que a competitividade da economia mundial é muito maior, esmagando os rendimentos da classe média.”
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