Uma das mais importantes artistas contemporâneas estreia-se em cinema: Marian Abramovic, que se descreve como a avó da arte da performance e é conhecida por ter explorado os limites da dor.
Sedutora, destemida e provocadora, ela tem vindo a questionar os limites da arte nos últimos quarenta anos, utilizando o próprio corpo como veículo e forçando-se a ir além dos seus limites físicos e psicológicos. Às vezes é a sua própria vida, que fica em risco nesse processo criativo, numa procura do que fica para além da consciência.
Ela é também um ícone da arte mais mediática, com as controvérsias suscitadas por obras de uma inquestionável originalidade.
Para «Marina Abramovic, The Artist is Present», o realizador Matthew Akers começou a acompanhar a diva da arte corporal na preparação daquele que poderia vir a ser o mais importante dia da sua vida: a inauguração da grande retrospetiva da sua obra no Museum of Modern Art de Nova Iorque.
Encontramos, pois, Marina na discussão dos detalhes finais da sua exposição em discussão com os curadores, galeristas e designers, sempre revelando uma ironia e uma excitação, que justificam a crença de, aos 63 anos, ter deixado de fazer sentido ser incluída na definição da artista marginal. Essa exposição num dos principais museus nova-iorquinos vai ao encontro do seu desejo de se ver legitimada como cânone a ser levada em conta numa das múltiplas vertentes da arte contemporânea.
A montagem da exposição no MOMA é a espinha dorsal de «Marina Abramovic, The Artist is Present» e inclui também a experiência concretizada durante o evento de a vermos sentada todos os dias, entre o início de Março e o final de Maio de 2010, a enfrentar com o olhar os visitantes do museu dispostos a sentarem-se à sua frente no outro lado de uma mesa. Aquilo a que ela chama «o quadrado de luz» .
As regras impostas a esses participantes na performance eram claras: não existiriam palavras, nem toques, nem comunicação ostensiva de nenhum tipo. Apenas a troca dos olhares com a artista para alcançar, no entendimento dela, o estado luminoso do ser, um intenso diálogo de energia.
Confessaria Marina, que essa criação seria a mais exigente e extenuante de todas quantas tentara até aí. Porque na sua simplicidade iria permitir-lhe renunciar à teatralidade característica de muitas das suas obras anteriores. Alcançaria então esse estado em que o desempenho transformava-se em vida e esta em arte.
Nesses três meses de exposição, o filme acompanha Marina dia a dia, vendo como ela se senta na pequena mesa colocada no átrio do museu, olhando as dezenas e dezenas de pessoas, que se arriscam a sentar-se perante ela, perante o público inevitavelmente tomado pelo sortilégio da comunicação ali estabelecida.
Mais do que um mero documentário tradicional, «Marina Abramovic: The Artist Is Present» é viagem fascinante a uma exposição artística e o retrato íntimo de uma mulher incrivelmente magnética, infinitamente intrigante e que não faz qualquer distinção entre a vida e a arte.
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