quinta-feira, 8 de novembro de 2012

POLÍTICA: Os conselhos de Stiglitz


O Prémio Nobel da Economia de 2001, Joseph Stiglitz não tem dúvidas quanto à causa da crise económica nas sociedades europeia e norte-americana: a crescente desigualdade suscitada pela financeirização vigente. Para ele é incompreensível a tolerância para com a obscenidade de um administrador tipo António Mexia ganhar centenas de vezes o auferido pela maioria dos funcionários da empresa que dirige.
Ao contrário do que os mais extremosos defensores do capitalismo defendiam (a tese da “mão invisível” tão ao gosto de Adam Smith) a crescente desigualdade de rendimentos não regula eficazmente os mercados e mantém nos patamares mais baixos da escala social quem tem o azar de neles nascer.
Lamenta Stiglitz: O Supremo Tribunal influenciado por Milton Friedman e o seu mito de eficacidade do mercado, permitiu o desenvolvimento dos monopólios.
Pior ainda, em nome da liberdade de expressão, autorizou as empresas a financiar ilimitadamente as campanhas eleitorais, Esta decisão criou uma classe de atores políticos super-ricos, que influenciam no sentido de aumentarem ainda mais os seus rendimentos.
Olhando para a Europa as recomendações de Stiglitz são de uma sensatez, que só as Merkeis, os Barrosos e os Coelhos desdenham ver: A Europa deve pôr fim à obsessão com o défice e mudar de paradigma. É claro que existem desperdícios na despesa pública, como nos EUA, mas, estruturalmente, o défice não é significativo. Em vez de lhe atribuir a responsabilidade pela fraqueza da economia, os dirigentes europeus deveriam compreender que é uma economia anémica - portanto com as suas receitas fiscais reduzidas - a causadora do aumento do défice.
Como se pode aceitar que, com um jovem em cada dois no desemprego, a Espanha possa conseguir reembolsar a sua dívida?
A austeridade só retarda a solução dos problemas. Em compensação as despesas públicas na educação e na tecnologia podem, a prazo, estimular a produção e criar emprego.
A Alemanha esqueceu as lições dos anos 30, quando a obsessão com o equilíbrio orçamental agravou a recessão e tornou a guerra inevitável. Angela Merkel dá sermões aos vizinhos, pede-lhes que a imitem, mas esquece que os seus excedentes (também devidos a uma taxa de câmbios favorável) são os défices dos demais. Seria necessário tomar medidas quanto a esse  superavit.
Depois da crise de 2007, esperava que a Alemanha tentasse reparar os erros do projeto europeu (dumping fiscal, ausência de integração bancária). Mas nada fez. Erigida em dogma, a austeridade nada resolverá. Só se restabelecerá o crescimento através de políticas orientadas para esse objetivo.
(as citações de Stiglitz foram extraídas de uma recente entrevista ao «Nouvel Observateur»)

Sem comentários:

Enviar um comentário