Não será porventura uma opinião consensual, mas se existem teorias da conspiração, que valem a pena considerar como admissíveis, a que considera o Caso Casa Pia como componente importante da estratégia da direita portuguesa para levar por diante um golpe descaracterizador do regime democrático, é uma das mais pertinentes.
E não penso isso hoje pelo facto de Carlos Silvino e um dos jovens supostamente abusados pelos suspeitos terem vindo a negar tudo quanto tinham afirmado até aqui e a acusarem a Judiciária de os ter obrigado a figurarem nessa manipulação odiosa.
Recordemos que o caso iniciou-se quando, em França, já se discutia o sucedido em Outreau aonde vários jovens tinham acusado os vizinhos, tidos como pertencentes a uma rede pedófila, de os violentarem. Tragicamente a justiça gaulesa dera provimento às suspeitas, encarcerara os acusados, destruira-lhes a reputação e inclusive a vida (já que um deles não suportara o aviltamento de que fora objeto e suicidara-se) até acontecer a reviravolta: afinal, ao contrário do que afiançavam os pedrostrechts locais as crianças mentem mesmo, conseguem ser pérfidas nessas mentiras e tudo não passara de um chorrilho de acusações falsas. Mas com danos irreparáveis para os que, por fim, foram inocentados de todas as suspeitas.
Foi nessa altura que uma estranha conjugação de interesses, que reuniu gente de direita e próxima do PCP (Catalinas, Namorados), encontrou eco na inevitável Felícia Cabrita (que curiosamente persiste a mostrar-se crédula das mentiras convenientes a que quer dar provimento!) e transformou a vida de Carlos Cruz e dos outros arguidos num inferno.
Voltando atrás, e recordando como também se quis incriminar Paulo Pedroso, Ferro Rodrigues e outros socialistas no mesmo caso, o objetivo era claro: conotar o Partido de José Sócrates (com quem Carlos Cruz trabalhara intensivamente para trazer a fase final do Europeu de Futebol para Portugal) com práticas pedófilas, como forma de, através da calúnia e dos assassinatos de carácter, conseguir o essencial: apossar-se do poder para o «refundar» de acordo com o projeto agora assumido por Passos Coelho, sem sobre esse modelo económico ser obrigado a discutir-lhe os fundamentos.
Nada melhor do que eliminar os adversários de acordo com as práticas da mentira mil vezes repetida e com a garantia de encontrar eco em juízes, em polícias, nas televisões e nos jornais.
Será muito provável que historiadores futuramente interessados em escalpelizar as relações de forças entre as classes sociais deste período consigam uma interpretação distanciada de sucessivas campanhas de descrédito sobre diversos políticos socialistas nos últimos anos. Nomeadamente incididas ultimamente em José Sócrates a quem se procuraram colar todo o tipo de acusações.
Como dizia o anterior Procurador Geral da República nunca se gastou tanto dinheiro para investigar um caso como o do negócio Freeport sem que se tenha chegado a outra conclusão que não fosse o de existirem duas pessoas, que tinham ouvido dizer a terceiros aquilo que convinha espalhar como certezas nas redes sociais e nos jornais.
Com a demonstração da completa inexistência de provas consistentes para acusar quem quer que seja de vilanias inventadas pela central de desinformação da direita e com a falência anunciada da execução do propósito ideológico que sustentava esse núcleo de eminências pardas, que terão incumbido Passos Coelho de virar do avesso tudo quanto o 25 de abril trouxera de bom à vida dos portugueses, será curioso verificar o que se seguirá quando a tampa do caixote do lixo se abrir para engolir Passos, Relvas & Cª.
Que metástases terão deixado esses vírus nas instituições do Estado? E que prepararão eles para boicotar a dificílima obra de reconstrução social a que o próximo Governo terá de meter mãos à obra?
António José Seguro, ou quem liderar esse processo de reparação dos danos agora suscitados pelo governo atual, terá de contar com desafios muito exigentes. Mas o que não poderá perder de vista é que esta gente, que se esconde por trás destes ministros, é extremamente perigosa…
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