Será muito provavelmente um dos grandes filmes, que veremos nos próximos meses, pelo menos a julgar pelos encómios publicados na imprensa norte-americana: a abordagem de Steven Spielberg à fascinante personalidade de Abraham Lincoln.
À partida o casting não poderia ser mais imponente: há Daniel Day Lewis no papel principal (e já se fala de um justo terceiro Óscar para a sua interpretação, como sempre preparado com o rigor obsessivo tão inerente a ele!). Mas também Tommy Lee Jones, James Spader ou Sally Field.
Há também o argumento assinado por Tony Kushner, que já tanto nos entusiasmara com a peça «Angels in America», que vimos transformada em interessantíssima minissérie.
Mas, sobretudo, há a história em si, que não se pretende hagiográfica (como sucedera com o jovem Lincoln de John Ford), mesmo mantendo as características reconhecidamente intrínsecas à sua personalidade: a humildade, a ternura, o comedimento, a sensibilidade, a tolerância. O Lincoln do filme de Spielberg tem de mergulhar a fundo no ambiente venal da política de Washington, quando lhe restam poucos meses de vida e luta por aprovar a 13ª emenda constitucional, aquela que acabará definitivamente com a escravatura.
O que se retrata é uma arena turbulenta em que abundam acusações de parte a parte e em que há virtude na iniquidade e impiedade na probidade.
Naquele que parece confirmar a consolidação de um projeto cinematográfico menos dedicado ao entretenimento em favor da equação de questões que considera relevantes na política norte-americana - e aqui existirá algum paralelismo entre as boas intenções de Obama face à intransigência republicana - Spielberg acrescenta mais um título de referência na sua carreira.
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