No «Nouvel Observateur» o escritor Philippe Sollers regressa a um dos grandes romances de Scott Fitzgerald: «Terna é a Noite». E a sua abordagem é interessante e pessoalíssima.
«Terna é a Noite» é um romance em que o narrador, psiquiatra, desposa uma esquizofrénica devido ao dinheiro que ela tem, e, enquanto a vê melhorar progressivamente, é ele quem vai piorando.
O tempo era, primeiro imóvel, mas logo os anos se precipitaram de repente, ao ritmo dos pêndulos do calendário e dos aniversários, como se fosse um filme rebobinado aceleradamente e Nicole dava a perturbadora sensação de ter perdido a beleza pouco a pouco.
As mulheres e os homens não vivem ao mesmo tempo: elas decompõem-se por fora e eles por dentro. O desentendimento entre os sexos é toral, perpassado por baforadas de ilusões.
Segundo Fitzgerald é assim que corremos para a morte, na frescura do dia a acabar.
Em Fitzgerald o desespero nunca é espesso nem vulgar. Não há pornografia, nem palavrões, apenas uma crueldade elegante e ligeira. É um criador de instantes idílicos e perigosos, que nada esconde das suas derrotas, transformadas em vitórias póstumas. Já que morrerá cedo, com apenas quarenta anos.
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