sexta-feira, 2 de novembro de 2012

FILME: «O Sétimo Dia» de Carlos Saura



Num passado distante o mulherengo Amedeo Jimenez deitou-se com Luciana Fuentes num celeiro, mas logo dela se enfadou. Foi o trágico início de uma sucessão de vinganças, que culminariam num autentico massacre. Assim, um dos irmãos de Luciana mata Amadeo, e é aprisionado por muitos anos. Mas, entretanto, a mãe dos Fuentes morre carbonizada no incêndio da sua casa, atribuindo-se esse fogo à mão do irmão de Amedeo.
Para os Fuentes, que se consideram ostracizados pelos demais vizinhos, terá havido uma cumplicidade coletiva para escamotear a autoria do incidente, que lhes destruíra a casa.
A vingança dos Fuentes será uma espécie de prato frio, mas que nunca abandonará os seus longos dias, sobretudo atiçada pela enlouquecida Luciana.
Enquanto espectadores iremos assistir a toda a tragédia pelos olhos de Isabel Jimenez, que pressente a impossibilidade de escapar ao desenlace, que se seguirá. Como se na Espanha rural do pós-franquismo surgisse uma espécie de augúrio como os encontramos nos romances de Gabriel Garcia Marquez.
A mãe de Isabel bem tenta que o marido venda o matadouro familiar e as leve para Sevilha ou para Madrid, mas é a própria conjuntura económica, que lhe obstrui os sonhos: as grandes superfícies já ocupam todos os possíveis locais de ampliação dos seus negócios, e esse tipo de pequena empresa deixa de interessar os possíveis compradores.
Uma noite, quando toda a aldeia está na rua para viver as cálidas temperaturas estivais, os dois irmãos de Luciana aparecem de surpresa e disparam a eito, matando quem lhes aparece na direção das suas armas. Será assim que Isabel acabará ferida e verá mortas as duas irmãs.
Muito embora já tenhamos conhecido filmes mais interessantes assinados por Saura (escolhendo o «Ay carmela!» como o da minha pessoalíssima preferência), este inscreve-se com toda a lógica na abordagem da violência por que se caracterizou quase sempre a filmografia do realizador espanhol. Uma violência, que tem raízes profundas na distante Guerra Civil, mas condiz com a sobriedade de uma paisagem quase sem árvores.

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