quinta-feira, 15 de novembro de 2012

POLÍTICA: Vencer o medo


No suplemento W do Jornal de Negócios da semana transata, a jornalista Anabela Mota Soares  entrevistou Manuel Carvalho da Silva a propósito da edição recente de Vencer o Medo  - Ideias para Portugal.
Porque passou relativamente despercebida vale a pena recordar aqui alguns dos principais trechos de tal artigo:
Precisamos de desobediência, de expressar o nosso “direito à indignação”. Julgo que é esse o tempo em que estamos. O de uma desobediência que force soluções. Se não houver essa desobediência,  e em tempo útil, podemos ter uma situação de guerras.
Os portugueses têm fortíssimas razões para se indignarem. Já não é apenas o interesse individual do trabalhador que, por medidas desajustadas, fica no desemprego, daquele que, em função dos cortes a direitos, fica na pobreza, da classe média que de um momento para o outro se vê desarmada e em situações de carência absoluta.
São todas estas expressões, mas é também o interesse coletivo, comummente designado como interesse nacional, que está manipulado. É preciso uma reação forte, porque quando um país se submete a essa interpretação do interesse nacional é um país ocupado.
Podem fazer discursos contra a renegociação, insultar os que a defendem e dizer que esses não a querem pagar… É mentira. Quem quer pagar a dívida, a sério, tem de ter condições para a pagar. Precisamos, para isso, não de destruir emprego, mas de ter emprego. Há uma série de mentiras que é preciso denunciar. Aponto uma: criou-se nas pessoas a ideia de que isto está a acontecer na Europa porque não há dinheiro.
Mas há imenso, imenso. Muitas vezes é dinheiro sujo. Está mal distribuído, e cada vez está pior. E está a ser mal utilizado, neste jogo especulativo extremamente complexo. Se há dinheiro para comprar a dívida alemã a juros negativos, ou para fazer certos investimentos em certos grupos financeiros a juros negativos, é porque há muito dinheiro.
A Europa tornou-se a frente avançada do neoliberalismo de há uns anos para cá. Percebe-se que tenha sido na Europa que o neoliberalismo mais atacou: estavam aqui sediadas as maiores conquistas sociais.
Hoje há gente que está no poder e que, se puder, como diz o povo, escavacar tudo - pôr em cacos - para impedir ou dificultar que os que vêm a seguir encontrem soluções, o fará sem hesitar.
A manutenção deste Governo é um perigo a cada dia que passa. Tornou-se um fator de apodrecimento aceleradíssimo da democracia portuguesa. Tornou-se um fator de crescimento da desconfiança entre o povo e os atores políticos, e está a contaminar as relações entre as instituições.
Precisamos de muito mais mobilização social. Não haverá uma responsabilização das pessoas para sair da crise sem essa mobilização.
Tem havido evoluções positivas, mas ainda estamos mais num clima de desalento do que num clima de “vamos a isto” para encontrar alternativas.
As pessoas estão atrofiadas na sua capacidade de ação. Porque muitas estão colocadas num sofrimento individual. Acentuou-se o individualismo. Lançou-se uma espiral regressiva que toma qualquer direito de qualquer indivíduo como um exemplo de excesso. “ Se aquele tem e eu não tenho, que aquele deixe de ter para ficar igual a mim”.  Isto vai caindo, caindo, isolando as pessoas.
Diz-se que o Estado social não é sustentável - ou seja, que a resposta coletiva não existe. Que não há dinheiro para a saúde, para a segurança social - cada um que tente salvar-se. Que não há políticas de emprego - cada pessoa, ela própria, e só por si, que cuidar dos seus problemas. Isto gera medos muito grandes. O contexto global também gera medos. Então, o desafio é mesmo vencer o medo pela razão, pela afirmação de valores de progresso. Não temos que nos subjugar e aceitar o empobrecimento.
(a itálico as palavras de Manuel Carvalho da Silva).


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