Um dos excelentes programas de Raphäel Enthoven sobre filosofia, transmitido pelo canal franco-alemão ARTE, vem em boa altura para analisar o comportamento dos portugueses, e sobretudo das suas elites, a respeito das eleições presidenciais do próximo dia 23.
O tema da discussão com a filósofa Judith Revel era a militância, o compromisso político. E o ponto de partida não poderia ser mais eloquente: somos sempre obrigados a um compromisso militante. Porque, mesmo quando escolhemos não o desempenhar, já estamos de uma forma indubitável a assumir um outro não menos óbvio. Ou seja, por exemplo na França Ocupada da 2ª Guerra Mundial a opção era muito clara: ou se lutava contra a barbárie nazi, alistando-se na Resistência ou era-se um colaboracionista. Como era o caso de todos quantos não se sentiam particularmente ligados ao regime de Vichy, mas nada faziam para o derrubar.
Ora o paralelo mais evidente com esse caso em concreto foi o da atitude do cidadão Cavaco Silva perante o regime fascista e com a guerra colonial, que ele alimentava em África. Ao não se comprometer com o seu derrube, o cidadão Aníbal Cavaco Silva foi um fascista passivo, um cobarde, que nunca deveria ter chegado à Presidência do Portugal democrático, nem obviamente ser em tal função reconduzido.
E essa cobardia deve ser vista em contraponto com o comportamento de Manuel Alegre que, mesmo contrariando os seus interesses pessoais, virou costas ao exército agressor e decidiu combater o regime no seu exílio. Despertando consciências a partir das suas emissões radiofónicas a partir de Argel.
Nessas duas atitudes: a do colaboracionista e a do resistente antifascista estão explicitadas as visões de ambos sobre a realidade em que estamos mergulhados.
E entre quem ganhou rendimentos de aplicações financeiras em vigarices organizadas pelos seus amigos mais próximos, e o homem de cultura íntegro, que assume o seu empenhamento com a cidadania na base dos valores éticos mais exigentes, não há qualquer dúvida sobre quem escolher no próximo dia 23.
Muito mal irá o país se renovar o mandato do actual inquilino de Belém.
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