Os dias mais recentes justificam algum optimismo a quem olha para a realidade com as lentes de quem nela procura detectar todos os sinais possíveis de transformações positivas para uma visão de esquerda para a sociedade.
A direita não tem emenda: as suas preocupações cingem-se à necrofilia mórbida pela memória de um dos seus mais heróis emblemáticos (conhecido pela falta de escrúpulos com que procurava afastar adversários fosse no campo ideológico oposto, fosse no próprio) e à expectativa de lhe ver cair o poder no regaço sem para tal investir o menor esforço.
Mas as preocupações quanto ao sucesso da sua estratégia sofreram súbita agudização com a anunciada crise das actividades circenses na Madeira, com a baixa hospitalar do seu mais talentoso clown, e sobretudo com as dificuldades por que passa o seu candidato presidencial contas com as suas perigosas ligações com o gang responsável pelas vigarices no BPN.
Basta vermos dois dos muitos textos publicados nos jornais deste fim-de-semana para compreendermos como as supostas favas contadas em que a eleição presidencial prometia transformar-se, não serão assim tão certas.
O Diário Económico editorialava assim na sexta-feira passada: O silêncio de Cavaco Silva já não é de ouro. E, por cada dia que o candidato presidencial se mantém irredutível na decisão de não revelar o contrato de venda das acções da ex-SLN, com as quais terá ganho uma mais valia de 140%, esse silêncio torna-se ainda mais insuportável.
Outro insuspeito cronista, Vasco Pulido Valente, também espingardava contra o candidato, que supostamente apoiaria: a alegada candura de Cavaco não o recomenda. Quem se envolveu - porque ele de perto ou de longe se envolveu - na trapalhada do BPN não é aparentemente a criatura indicada para superintender, com o seu conselho e a sua prudência, a economia de Portugal inteiro.
Quem nos garante que do assento etéreo a que tornará a subir não sairão opiniões ruinosas para o país? (…)
Com o caso do BPN perdeu ele próprio a confiança dos portugueses.
É claro que não será fácil o desafio, que se coloca à esquerda, mas seja Cavaco derrotado, seja ele vencedor, a mácula irá sempre menorizá-lo. E será, então, tempo de cumprir aquilo que Manuel Maria Carrilho propõe para o futuro: uma mudança total dos caminhos recentemente percorridos na governação. Voltando a não ter medo de ser de esquerda: A ideia-chave para que em 2011 se comece a sair do impasse em que o país e a Europa se encontram é só uma: não será com as pessoas, nem com as instituições, nem com as ideias que nos conduziram à crise que conseguiremos sair dela.
Sem comentários:
Enviar um comentário