Num artigo do «Nouvel Observateur», o filósofo francês Marcel Gauchet considera que 1974 é um ano de viragem na sequência do choque petrolífero do ano anterior e da terceira vaga de democratizações na Europa do pós-guerra com a Revolução dos Cravos a servir de ponto de partida emblemático.
Segundo ele a crise de crescimento da democracia tem a ver com a convicção de constituir a democracia o único tipo de regime aceitável. E hoje temos de reconhecer a menorização progressiva da democracia, quer ao nível da deliberação, quer da decisão…
No mesmo debate, Pierre Rosanvallon reconhece ter havido uma crise permanente da democracia desde o fim do século XIX, ou seja desde a generalização do sufrágio universal na Europa, já que sempre suscitou expectativas frustradas. Hoje existirá um distanciamento cada vez maior entre o tempo eleitoral e o tempo governamental: enquanto no primeiro se tem de seduzir, mostrando capacidade para ir ao encontro das expectativas imediatas nem que se tenha de, para isso, moldar a realidade, no momento seguinte entra-se na lógica do «Perhaps, we cannot», enfatizando as dificuldades e os constrangimentos ao ideal.
Para o mesmo Rosanvallon o maior problema actual tem a ver com o enfraquecimento do Estado, quer pelos ataques contra ele proferidos pelos marxistas, que o acusam de estar ao serviço dos poderosos, quer dos liberais para quem ele só defende os interesses corporativos dos burocratas.
Retomar a defesa do serviço público é para este filósofo uma tarefa urgente.
Sem comentários:
Enviar um comentário