A imigração enriquece as nossas sociedades, trazendo novas culturas e perspetivas. Contudo, a esquerda, no compromisso com a igualdade e a justiça social, enfrenta o desafio de integrar estas novas realidades sem ceder a simplificações perigosas. Respeitar as diversas culturas e religiões é fundamental, mas essa tolerância não pode ser ilimitada. Há princípios inalienáveis da nossa sociedade, como a igualdade de género e a proteção dos direitos humanos, que não podem ser comprometidos. Práticas como a poligamia ou a mutilação genital feminina são ilegais e inaceitáveis em Portugal e na Europa, e a sua não-aceitação não é xenofobia, mas a defesa intransigente da dignidade e dos direitos de todos.
Ao mesmo tempo, é crucial abordar a crise da habitação, um problema que a imigração, tal como o turismo de massa, exacerbou. O crescimento descontrolado dos alojamentos locais e a especulação imobiliária têm transformado um direito constitucional – o direito à habitação – num luxo inacessível para muitos. Vemos com preocupação a exploração de imigrantes em condições de habitação degradantes, com rendas exorbitantes por espaços diminutos e insalubres. Esta situação não é resultado da imigração em si, mas de um sistema que permite a exploração sem escrúpulos por parte de proprietários e intermediários, que acumulam lucros à custa da dignidade humana. A esquerda deve lutar por políticas públicas que garantam habitação digna e acessível para todos, regulando o mercado e combatendo a especulação.
É também imperativo reconhecer que os grandes beneficiários da imigração desregulada são, muitas vezes, os mesmos setores que financiam a extrema-direita. Estes grupos aproveitam-se da vulnerabilidade dos imigrantes para obterem mão-de-obra mais barata, sem direitos ou contratos de trabalho justos. Esta exploração capitalista da força de trabalho imigrante precariza não só os recém-chegados, mas também os trabalhadores portugueses, criando uma competição desleal e baixando os salários de todos. É paradoxal que muitos dos que foram forçados a emigrar para encontrar melhores condições de vida acabem por votar em partidos de extrema-direita nos seus países de acolhimento, sem perceber que representam precisamente os interesses dos patrões exploradores que os condenaram a essa mesma procura.
Cabe à esquerda articular uma visão que defenda a integração digna e humanitária dos imigrantes, garantindo-lhes direitos e condições de vida justas, ao mesmo tempo que combate as práticas culturais incompatíveis com os valores fundamentais dos direitos humanos. Deve também lutar contra a especulação imobiliária e a exploração laboral, independentemente da nacionalidade. A luta não é contra o imigrante, mas contra as estruturas de exploração e desigualdade que afetam a todos, sejam eles nascidos em Portugal ou recém-chegados.
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