quinta-feira, 31 de julho de 2025

Os Predadores e a Lógica da História

 

Depois de desvendar-nos os labirintos do Kremlin e as intrincadas teias digitais dos "Engenheiros do Caos", Giuliano da Empoli aprofunda, em "A Hora dos Predadores", uma análise que, embora pertinente, entra numa espiral de pessimismo cada vez mais acentuada. Os pressupostos de Empoli sobre a fragilidade das democracias ditas liberais e a inevitabilidade da ascensão de regimes autoritários, que operam com a lógica da força e da manipulação, são, sem dúvida, perturbadores e encontram eco em muitos eventos contemporâneos. A perspetiva sobre a "política da emoção" e a erosão da verdade é uma lente poderosa para compreender o cenário atual.

No entanto, vale a pena relativizar até que ponto esses pressupostos são omnipresentes ou inelutáveis. A análise de Empoli, ao focar-se na eficácia das estratégias dos "predadores", corre o risco de subestimar a resiliência das sociedades civis e a capacidade de reação das próprias democracias, ainda que tardia. O pessimismo latente que transparece em "A Hora dos Predadores" sugere uma espécie de marcha inexorável para um cenário onde a manipulação e o autoritarismo dominam, questionando a própria capacidade de contraofensiva das forças que defendem os valores democráticos.

Mas a História, essa velha mestra, não ensina uma lição fundamental? Mesmo quando um determinado poder, por mais absoluto e avassalador pareça ser, atinge o auge de força, é precisamente nesse momento que as condições para o seu esgotamento e eventual colapso já começam a acentuar-se. A hegemonia excessiva, a rigidez na aplicação do poder, a incapacidade de adaptar-se ou de escutar vozes dissonantes – tudo isso, paradoxalmente, semeia as sementes da própria destruição. Impérios caíram, ditaduras ruíram, e mesmo regimes totalitários aparentemente inquebrantáveis acabaram por ruir sob o peso das contradições internas, da exaustão dos povos ou da emergência de novas realidades que não conseguiram controlar.

A "Hora dos Predadores" é um espelho útil para os perigos que enfrentamos, mas talvez a maior esperança não esteja na negação do seu diagnóstico, mas na lembrança de que nenhum poder é verdadeiramente invencível. A própria natureza do sistema que Empoli descreve, assente na volatilidade das emoções e na constante necessidade de criar novos "inimigos" e "caos", pode ser a sua maior fraqueza a longo prazo. A exaustão da própria narrativa, a desconfiança que se instala quando a manipulação é desmascarada vezes demais, ou simplesmente o desejo humano por autenticidade e estabilidade, podem ser as forças que levarão os "predadores" a encontrar o seu próprio limite. E essa é uma lição que a História, por mais que Empoli se debruce sobre o presente, continua a sussurrar.

Sem comentários:

Enviar um comentário