A dignidade de quem trabalha não pode ter passaporte. Como sublinha Ricardo Paes Mamede, é crucial garantir salários mínimos decentes, descontos para a segurança social, horários e condições de trabalho justas, o direito de associação e uma proteção social robusta para todos, sem exceção. Quanto mais assegurarmos estes direitos, menos atrativo será o nosso país para quem procura explorar a vulnerabilidade, e menos trabalhadores estrangeiros serão forçados a aceitar o que os nacionais, e bem, já recusam.
Mas a nossa responsabilidade não acaba aqui. A integração efetiva da população imigrante na sociedade portuguesa é um pilar de uma nação coesa. Isso passa por favorecer o reagrupamento familiar, para que as famílias possam estar juntas e criar raízes. Passa também por promover a aprendizagem da língua portuguesa, desde as crianças aos adultos, para que se sintam verdadeiramente parte de nós. E, claro, passa por combater todas as formas de discriminação e os discursos de ódio, que só servem para dividir e fomentar o ressentimento. Uma política de habitação pública que previna a criação de guetos é, igualmente, um passo vital para construir comunidades saudáveis e integradas.
Deixemos claro: destruir o único teto que as pessoas têm, fomentar o ódio ou ser conivente com ele, restringir ao máximo o reagrupamento familiar ou entregar os direitos dos trabalhadores estrangeiros nas mãos de empregadores sem escrúpulos pode ter muitos nomes. Mas uma coisa não é, de certeza: não é uma política de imigração razoável, nem muito menos a base para a construção de uma sociedade decente. É, antes, a receita para a exclusão e o conflito, algo que devemos rejeitar veementemente.
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