Passaram vários anos sobre uma coisa sinistra chamada Compromisso Portugal, que reunia a azeda nata cavaquista com uma geração de tecnocratas saídos da Católica ou dos cursos de Economia da Nova, e tendo o Observador como pífio altifalante. José Manuel Fernandes saiu do «Público», porque este se afundava nas tiragens e nas receitas, e foi adiar a mais do que urgente passagem à reforma como seu responsável.
Após um introito assim ao jeito de nem carne, nem peixe, com Bárbara Reis como diretora, a Sonae decidiu dar o lugar a Manuel Carvalho. O resultado tem sido desastroso, porque vemo-lo a trilhar as sinuosas linhas daquele seu outro antecessor.
Durante o seu detestável consulado tem-se agarrado a todos os argumentos para pôr em causa o Partido Socialista e o governo de António Costa. Não se lhe adivinham os motivos para tão consistente raiva, mas ela revela-se em repetidas ocasiões. E pressentimos-lhe a angústia existencial por ter de suportar novo governo de esquerda por mais quatro anos. Se a tarefa imposta pelos Azevedos era a de manipular a desinformação de forma a dificultar a reedição dos resultados eleitorais de 2015 - que o deixaram tão inconformado! - a perspetiva de uma vitória mais robusta do PS só não lhe põe os cabelos em pé, porque poucos lhos sobram no alto da cabeça.
Agora o assunto Tancos fá-lo salivar, dando-lhe o que julga ser a oportunidade para travar uma dinâmica eleitoral desfavorável para os seus intentos. E põe-se a exigir em editorial, que António Costa alinhe na histeria das direitas em torno do assunto. O texto deste domingo é exemplar quanto ao desespero, que lhe vai na alma. Será porventura por pressentir que, insatisfeitos com os objetivos a que se predispusera, os patrões irão apontar-lhe a porta da saída restando-lhe uma anónima sinecura no Observador para compor o ordenado até à reforma?
Carvalho, e quem ainda o aguenta à frente do «Público», não compreende que os leitores de jornais afetos às direitas preferem o «Correio da Manhã», porque para mais não lhes chega a inteligência, nem a curiosidade. E que os afetos às esquerdas podem perder definitivamente a paciência e juntarem-se aos muitos que o deixam de comprar, porque não têm paciência para pagar um produto manifestamente infecto.
É claro que Carvalho não consegue impor o que o PS deve ou não dizer nos seus discursos de campanha. Porque todos reconhecem a coerência de quem, mesmo quando estava em causa um seu antigo secretário-geral e primeiro-ministro, nunca deixou de assumir o princípio de cingir à Justiça o que só a ela compete. Por muito que seja evidente o quanto ela própria se anda a desviar da transparência e da fiabilidade, que lhe deveremos exigir. Mas isso são contas de outro rosário para o qual Rui Rio estava a dar sinais de contribuir, mas a que lestamente virou costas tão só lhe deu jeito o oportunismo de se aproveitar de algo que até recentemente condenara. Mas dia seis, os Rios e os Carvalhos terão o devido troco...
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