segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Voltando aos critérios editoriais nos telejornais


Segundo post do dia sobre os critérios editoriais dos nossos telejornais, embora o anterior tenha levado alguns a olharem para o dedo em vez de seguiram o olhar para a direção para que apontava: a injustificada abertura de um telejornal com a notícia da morte de um cantor pimba.
Neste segundo caso mudamos de canal e, em vez da SIC, mudamo-nos para a RTP onde à mesma hora exibia-se José Rodrigues dos Santos com a sua habitual desfaçatez. O tema escolhido era o das sondagens com a possibilidade de maioria absoluta para o Partido Socialista e os comentadores por ele questionados eram Pedro Norton e Pedro Adão e Silva, qualquer deles atarantados com o que o interlocutor os queria forçar a dizer. Mais intimidado Pedro Norton lá ia anuindo com a possibilidade de as direitas não estarem a conseguir um discurso eleitoralmente atrativo perante as «contas certas» do Partido Socialista, o outro Pedro a conseguir libertar-se um pouco mais das peias, que o entrevistador lhe colocava e a desenvolver uma hipótese, que não conseguiria desenvolver: a de que, para além dessa evidência das «contas certas» ou da inabilidade de Rio ou Cristas, a probabilidade em causa poderia explicar-se pelo sucedido perante as lutas dos professores e dos motoristas de matérias perigosas.
Já que o pivot do telejornal não queria ouvir senão as suas obnóxias teses deveria alguém na régie dar-lhe a ordem para que permitisse ao professor do ISCTE um desenvolvimento mais prolongado da sua pertinente tese. Mas se isso sucedeu ele fez orelhas moucas, porque interessava-lhe concluir a peça com a sua própria conclusão: se o Partido Socialista conquistar a maioria absoluta não a deverá à excelência das suas políticas e ao agrado por elas suscitado junto da maioria dos eleitores, mas porque terá implementado políticas de direita, espoliando o CDS, o PSD e os nados mortos de Santana Lopes ou do Arroja, do seu discurso natural.
De José Rodrigues dos Santos já ouvimos muitos disparates. Do que escreveu não posso dizer o mesmo, porque escusei-me a perder um cêntimo ou um segundo que fosse com as suas efabulações escrevinhadoras. Mas partir do princípio de que a boa gestão económico-financeira só incumbe às direitas, porque as esquerdas são, por natureza, despesistas, só lembra ao tal Godot por que Passos Coelho suspirou no início da legislatura e nunca aos seus prosélitos compareceu. Para o pisca-pisca da RTP não passa pela ideia de que os grandes ensaístas da Economia e das Finanças sempre foram e continuam a ser homens de esquerda. O que não admira: ele ainda deve ter ficado na fase de babar-se com as teses tolas de Milton Friedman e dos seus monetaristas de Chicago.

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