1. Há muitos anos, quando integrava a Comissão de Trabalhadores de uma das grandes empresas de então, chegou à sua Administração um dos mais conhecidos gestores da área socialista, que logo identificou um dos seus maiores problemas: tratava-se de uma organização triste, onde as pessoas andavam ensimesmadas e, por isso mesmo, pouco produtivas.
Conseguiria ele dar a volta à situação? Nunca o saberemos, porque, entretanto, cavaco silva ganhou a primeira maioria absoluta e esse gestor mudou literalmente para outros ares.
Mas transpondo essa constatação para o próprio país, estes quatro anos de (des)governação passista tiveram o condão de coletivizar a tristeza para o âmago da maioria dos portugueses, que passaram a consumir antidepressivos em quantidades excessivamente elevadas.
À medida que a data das eleições legislativas se foi aproximando começou a sentir-se um princípio de alívio por estar quase a terminar tanto suplício, tanta negação do direito à esperança. Mas os media conluiaram-se para convencê-los do contrário: apesar do contraste abissal entre o Portugal por eles enaltecido e o sentido na realidade, eles esforçaram-se por criar a narrativa de um António Costa incapaz de se livrar de algumas inépcias e de um crescendo no apoio à coligação de direita, que poderia até levá-la a nova maioria absoluta.
Infelizmente essa narrativa, complementada com algumas sondagens com metodologias mais do que ambíguas, causou sério sobressalto em muitos socialistas, que passaram a “comprar” a banha-da-cobra que lhes estava a ser “vendida”. E até encontrei alguns desolados pela descrença numa tão ansiada vitória de António Costa.
O debate de ontem, visto por mais de 3,5 milhões de portugueses terá significado um ponto de viragem: ainda não é a manhã clara de que falava Sophia, mas abre a porta à expetativa de a ver alcançada no dia a seguir às eleições. E, hoje, quando me cruzei na rua, ou em espaços comerciais, com outras pessoas, elas até pareciam ostentar uma expressão mais desanuviada. Como se tivessem já interiorizado, que a esperança volta a ser possível!
2. Andou toda a gente a falar de Sócrates a propósito do debate, mas só a minha cara metade reparou em algo de significativo: o anterior secretário-geral do PS foi citado saudosamente por passos coelho, que deixou implícita a ideia de quanto teria preferido tê-lo como opositor em vez do combativo António Costa.
Há dias, nas redes sociais, havia quem formulasse votos quanto a ver Seguro a abraçar António Costa numa das iniciativas da campanha, como forma de lhe demonstrar o apoio, que todos os anteriores secretários-gerais socialistas já lhe testemunharam.
Tratar-se-ia de um gesto bonito e mediaticamente eficaz. Mas, quando estamos diariamente a constatar o boicote ativo, que os apoiantes da anterior Direção, estão a fazer à campanha - primando quase sempre pela sua ausência! - só podemos lamentar que eles estejam objetivamente a preferir a vitória da direita à do seu partido e à dos portugueses em geral.. E isso é algo que não nos podemos esquecer depois de 4 de outubro...
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