É muito possível que, daqui a uma semana, Jeremy Corbyn tenha ganho as eleições para a liderança dos trabalhistas britânicos, exasperando assim os derradeiros sobreviventes da malfadada Terceira Via, que vai metendo água por todos os lados. E o seu sucesso em nada é devido ao carisma pessoal, reconhecidamente como sendo algo de que verdadeiramente carece. Mas, em compensação, Corbyn compensa tal limitação com a coerência de ter passado os últimos quarenta anos a participar em todos os combates: contra as guerras do Vietname ou do Iraque ou denunciando os previsíveis efeitos do Tratado Orçamental.
É essa mesma constância que o levou a nunca ter abandonado a circunscrição de Islington North, onde é eleito deputado há trinta e dois anos e obtém resultados acima dos 60%.
Há, igualmente, o seu lado de gentleman, reconhecido até pelos adversários, que se veem contestados com elegância e sem ataques pessoais. Mas sem que isso se traduza na sofisticação na forma de trajar: Corbyn aparece, amiúde, de sandálias em Westminster e é conhecido como sendo o deputado com menores custos para o erário público.
Mas são as suas posições políticas a justificarem os apoios mais empenhados e os maiores ódios: declara-se republicano e defensor da nacionalização das empresas ferroviárias e distribuidoras de energia, ao mesmo tempo que se bate pelo desarmamento nuclear. Ademais propõe a gratuitidade das propinas e maior carga de impostos para os mais abastados.
Caso se confirmem as sondagens algo de novo parece surgir na política europeia, demonstrando o ressurgimento de uma esquerda de valores, capaz de se traduzir em governos mais apostados na redução das absurdas disparidades de rendimentos entre cidadãos.
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