"Se este tempo não fosse tão extraordinário, não era preciso que tomássemos, todos, uma atitude extraordinária. Portugal não pode continuar assim por muito mais tempo, governado por forças e esquemas financeiros que ninguém controla. A democracia e os povos não aguentam mais. Não podemos deixar tudo nas mesmas lógicas de sempre, nas mãos dos de sempre. Há uma urgência de mudança. O que me traz a este combate é a urgência da mudança".
O trecho de um discurso de António Sampaio da Nóvoa ilustra bem a minha convicção em como este não é um tempo eleitoral semelhante à maioria dos que temos vivido.
A História é um fluxo, que Heraclito comparou com o de um rio em que se tende sempre a avançar para a foz - e aí coincidiria com a visão determinista de uma certa leitura marxista dos acontecimentos - mas já aprendemos à nossa custa em como ele não é assim tão simplista.
Mantendo-nos no terreno da metáfora do historiador da Antiguidade, sabemos que há rios que nunca chegam a alcançar a foz. Outros, como os que desembocam no mar de Aral ou no mar Morto, arriscam-se a secar da foz para a respetiva nascente, por ser ilusória a sua abundância.
Bastará que tomem becos sem saída - como o Syriza arriscou nos meses em que foi Quixote a lutar contra moinhos de vento - ou dirigir-se para mares sem futuro para ver desmentidas as perspetivas de prosperidade por eles arrastadas.
Os rios têm meandros, que fazem com que andem para trás, depois de terem já estado mais próximo do seu desenlace. Mas também têm bifurcações, que são aqueles prenúncios de deltas em que uma parte vai para a verdadeira foz e a outra se perde em pântanos improdutivos.
Este é um desses momentos históricos: se escolhermos “deixar tudo nas mesmas lógicas de sempre” ameaça-nos o empobrecimento e a irrelevância. E esse é o braço da bifurcação anunciado pelos partidos da direita e pelo candidato presidencial, que os representar.
Pelo contrário, se optarmos pelo Partido Socialista, embora não isento de cachoeiras e outros obstáculos, o nosso rio aproxima-se da foz de um mar pródigo em maior igualdade e riqueza, de acordo com o projeto de futuro já bem delineado na Agenda para a Década, e sustentado rigorosamente nos cálculos macroeconómicos da irrepreensível equipa de economistas, que lhe deram substância.
É por acreditar ser esse o caminho, que aposto simultaneamente na vitória do PS e do conjunto da esquerda nas eleições de 4 de outubro e na de Sampaio da Nóvoa em meados de janeiro.
Perder a segunda eleição, depois de ter ganho a primeira, seria pôr em causa o seu sucesso. Daí que os próximos meses tenham de ser trabalhosos para ganhar ambas as batalhas. Na perspetiva de tornar, assim, mais provável a vitória na guerra de que a História do nosso tempo nos faz protagonistas.
Este é, em definitivo, um tempo de mudança...
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