Durante muitas semanas silenciei-me quanto ao que se ia passando na Grécia depois de, em janeiro, me ter servido da vitória do Syriza como argumento de identificação de algo de novo a despontar na política europeia, igualmente possível de pressentir no referendo escocês, nas regionais espanholas ou no avanço do Sinn Fein na Irlanda.
Nos últimos meses presenciámos os esforços quixotescos dos gregos para infletirem a política europeia no sentido, que melhor servisse os seus interesses. Sem sucesso como se viu, mas com a consciência de, apesar de derrotados, o terem tentado!
Foi por isso que desejei muito a vitória de ontem, porque não só retira à direita o argumento da efémera ascensão e súbita queda de quem ousou outro caminho, que não o austeritário, mas sobretudo por manter em aberto o resultado final de uma guerra de que já se ganharam e perderam batalhas, sem se ter chegado a um desenlace definitivo.
Quem pensa que o terceiro resgate significou a capitulação grega bem pode esperar sentado, porque Tsipras não descansará enquanto não mudar para melhor as condições com que sempre se manifestou em desacordo, apesar de ter sido obrigado a aceitá-las enquanto a relação de forças se mantiver como então. E já desde Galileu que sabemos estar num mundo que continua a girar, sujeito a permanente mudança.
A explicação para o resultado oficial das eleições gregas é fácil de formular: mesmo sabendo que a situação não melhorará nos próximos anos, os eleitores reconheceram a coragem dos que procuraram mudar o rumo das coisas em vez de imitarem os antigos donos do poder, sempre lestos a curvarem a espinha perante os dislates germânicos. E por isso voltaram a confiar-lhes o seu futuro na expetativa de se verem menos causticados do que o seriam com o regresso ao passado representado pela Nova Democracia e pelo Pasok.
A minha esperança reside na possibilidade de ver o Pasok desaparecer ou, mais tarde ou mais cedo, fundir-se com o Syriza, porque carrega um fardo demasiado pesado na sua imagem para que seja redimido. O ideal socialista carece ser recuperado e fortalecido nas terras gregas e, após libertar-se dos suspeitos do costume (os que nunca saberão ser poder por escolherem preferencialmente a via do inócuo protesto), Tsipras estará em condições de assumir o espaço, que Papandreou ou Venizelos se escusaram a ocupar.
Numa leitura colateral há, igualmente, a assinalar o rotundo falhanço das sondagens, mesmo as efetuadas no próprio dia das eleições com os eleitores apanhados à saída das urnas.
A Grécia tem sido o laboratório de ensaio para diversas experiências políticas e uma delas foi a utilização das sondagens enquanto ferramenta essencial à direita para convencer muitos cidadãos quanto à probabilidade de um empate técnico com tudo em aberto.
Daqui a duas semanas em Portugal será provável que nos deparemos com algo de semelhante: numa altura em que os comícios e ações de campanha de António Costa vão batendo sucessivos recordes de entusiasmo e de participação em todos os sítios por onde ele vai passando e a dupla passos & portas arriscam o menos possível as atividades em ambientes não protegidos para não virem a ser confrontados com o seu descrédito junto das populações, é anedótica a tentativa de muitos opinadores televisivos em discutirem as sondagens como se elas estivessem próximas da realidade.
Na noite do dia 4, quando estiver a beber espumante em frente ao Altis, terei encontrado novos motivos para confirmar o otimismo de acreditar possível outro mundo bem diferente do que este ainda é...
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