Semana após semana a leitura do semanário de francisco balsemão suscita um desafio estimulante, quando nos propomos a ler o que dizem os seus textos nas entrelinhas ou os mais escondidos no seu interior. Porque, se os títulos propõem uma leitura dos acontecimentos à medida dos interesses da coligação de direita, os textos que os acompanham logo contam outra história bem mais interessante.
No caso do jornal deste sábado comecemos pela sondagem, que tão explorada foi nos canais televisivos do mesmo dono.
O que se quis enfatizar foi uma possível vitória na secretaria da coligação, depois de um efetivo triunfo do PS nas legislativas, com a tese indefensável de cavaco ter de, com tais resultados, manter passos e portas no poder. Porque teriam em conjunto mais mandatos, defendia marcelo sabendo bem o quanto estava a querer vigarizar quem o ouvia.
Mesmo que os resultados coincidissem com tal sondagem, o PS seria o Partido de longe com mais deputados na Assembleia, já que, a exemplo da CDU, cuja existência se extingue com o escrutínio dando origem a representantes do PCP e dos Verdes, também o PAF se extingue a 4 de outubro dando lugar aos eleitos do PSD e do CDS.
Mas se a sondagem permitiu aos mais iludidos do PAF ganharem algum suplemento de alma, apesar das arruadas sem ninguém (ou a enfrentar contestatários), dos comícios com pouca gente e das visitas a ambientes protegidos (fábricas e associações patronais), ela diz o essencial do que se sente nas ruas: que uma enormíssima maioria dos portugueses quer ver a direita derrotada e António Costa a ocupar as funções de primeiro-ministro com 46.7%, percentagem mais do que suficiente para garantir a maioria absoluta!
Olhando depois para os artigos sobre a pré-campanha a insuspeita Ângela Silva dá conta das preocupações de passos coelho em ainda alimentar a quimera de se manter como líder do PSD, depois de 4 de outubro : “O que faz sentido é manter a estabilidade possível e tentar compensar uma derrota nas legislativas com uma vitória nas eleições de janeiro.”
Ele já sabe que vai perder, mas ainda anseia minimizar os custos de ter passado para a oposição e apresentar-se novamente aureolado com a imagem de vencedor nem que para tal tenha de aceitar marcelo rebelo de sousa como seu candidato. Até porque, este vai fazendo contas à vida e intervindo facciosamente, como reconhece a mesma jornalista noutro texto: “marcelo sabe que que mesmo que a coligação perca, é mais fácil arrancar para a vitória presidencial se o ponto de partida não for muito mau. E ele está disposto a ajudar”.
Um dos principais responsáveis editoriais pelo semanário, Pedro Santos Guerreiro vai sonhando com a viabilidade dessa reviravolta política, prevendo novas eleições legislativas daqui a dois anos devido à situação insustentável na Segurança Social. Seria então possível, a seu ver, o desagravo da direita.
O problema para passos & Cª é que estas duas semanas irão ser devastadoras para a coligação, tanto mais que o adiamento da venda do BES desmascara de vez as falácias emitidas pelo governo e por carlos costa a propósito do seu efeito inócuo nos bolsos dos contribuintes. Pedro Adão e Silva escreve sobre o que se torna, dia após dia uma evidência: “Somos todos lesados do BES, a única diferença é que aqueles que não caíram na esparrela do papel comercial ainda não foram notificados. (…) Há um ano, por tacticismo, o governo quis lavar as mãos das responsabilidades no BES, agora está a pagar os custos políticos do oportunismo”.
Na página seguinte, Daniel Oliveira alinha pela mesma bitola: “A solução encontrada para o BES foi uma experiência. A Europa encontrou em Portugal um governo suficientemente dócil para aceitar transformar o seu país numa cobaia. Cá estamos nós para apanhar os cacos”.
É por tudo isto que importa assegurar uma vitória incontestada a 4 de outubro para que António Costa não tenha dificuldades em, depois, contrariar marcelo enquanto rosto da segunda volta das legislativas e Maria de Belém na pele dos que ainda sonham com a desforra das primárias do ano transato. O país não se compadece com novos recuos, depois de ter andado para trás treze ou catorze anos.
A partir de 5 de outubro só existe um rumo a tomar e esse é o definido na Agenda para a Década apresentado por António Costa no mais recente Congresso do PS.
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