Anteontem a editorialista do jornal «i», Ana Sá Lopes, levantava uma questão interessante relacionada com o maior país da oposição e que tem origem no salazarismo:
A nostalgia da ditadura é um monstro difuso na sociedade portuguesa e atravessa todos os estratos sociais. O que é evidente na chamada "conversa de taxista" - aquele invariável "o que fazia falta era outro Salazar" que quase todos nós já ouvimos mais de 25 vezes - surge em formas mais refinadas, mas não menos obscenas, nos discursos das elites.
O incrível apego nacional ao mantra "isto está cada vez pior" torna quase óbvio que o período "melhor" fosse a ditadura ou, vá lá, os primeiros anos da Revolução, em que não havia nem água nem luz em boa parte do país, para não falar de hospitais decentes nem das estradas do professor Cavaco.
Numa altura em que muitos, à direita, colocam como provável a queda de Sócrates e do Partido Socialista num futuro próximo, cresce a ideia de que Pedro Passos Coelho não passa de um frouxo. E que seria bom contar com uma réplica, tanto quanto possível modernizada, desse modelo salazarento, para «endireitar» o país.
Rui Rio é o nome de que se fala. Até porque tem obra na cidade do Porto: derrotou sucessivos candidatos socialistas e, apesar de tanta gente apostada em contrariá-lo, conseguiu reduzir ao máximo os apoios locais à cultura, que, como dizia um célebre general franquista, só merece ser tratada à pistola assassina.
No seu editorial de ontem no «Público», Vasco Pulido Valente já torturava a mente com essa sanha autofágica da direita, que ameaça servir os interesses do actual primeiro-ministro. Mas que, do alto da Avenida dos Aliados, há um ambicioso, que deseja testar os seus dotes ditatoriais à escala nacional, poucos duvidam.
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