sábado, 6 de novembro de 2010

QUEM É O INIMIGO PRINCIPAL?

Andam aí pela net umas anedotas, que por palavras ou por imagens, focalizam no primeiro-ministro a causa de todos os males da nação. E quem aposta na sua defesa passa por mentecapto, corrupto ou ingénuo.
Nada de novo sobre quem têm persistido durante os últimos anos um conjunto de falsidades, de insultos e de meias verdades, que visam desacreditá-lo.
Trata-se de táctica costumeira da direita, seja ela portuguesa, brasileira, norte-americana ou de qualquer outro lugar e de que Sócrates, Lula ou Obama constituem vítimas óbvias.
Deveria, sim, espantar que haja quem contribua para difundir esse tipo de mensagens, quando elas constituem um óbvio tiro no pé quanto aos seus próprios interesses de classe.
Que quem possua a riqueza económica e financeira, a ser preservada tanto quanto possível dos impostos decididos pelo poder político, se aposse de televisões e jornais para conseguir a difusão de um discurso opinativo como o que se vê actualmente nesses meios de (des)informação (todos os comentadores lêem pela mesma cartilha neoliberal!) não espanta.
Os Murdoch, os Belmiros e os Balsemões pagam a papagaios para instilarem a ideia de existir um único caminho para a gestão do país: a consolidação de uma ordem económica baseada na existência de uma ínfima minoria de detentores de capital, de uma maioria de gente a viver do seu cada vez mais desvalorizado e precário salário e uma outra minoria de pressão, constituída pelos desempregados, disposta a vender o seu esforço potencial por valores remuneratórios cada vez mais baixos.
O que está em causa é a agudização da exploração do trabalho pelo capital, e se o Partido Socialista pode, em determinada altura, ter servido os interesses dessa classe exploradora contendo as tentações revolucionárias de uma fatia significativa de portugueses, está em vias de ser marginalizado para dar espaço aos que, lestamente, querem reduzir o papel do Estado, única via de redução de impostos para quem já deles quer fugir como o diabo da cruz.
Sócrates e o Partido Socialista vivem o dilema existencial de decidirem o que fazer agora. Ou atirar a toalha ao chão e deixar o campo de batalha para o combate desigual entre as bem armadas forças políticas de direita e as fragilizadas forças da esquerda ou participar na decisiva batalha pela defesa efectiva do Estado Social, ou seja da garantia universal de direitos essenciais (pão, saúde, educação, em primeiro lugar) para todos.
Quem insiste em fazer de Sócrates e do Partido Socialista o inimigo principal, e se não pertence a essa classe social de grandes empresários e proprietários, só serve de idiota útil a essa gente. Porque, mais tarde ou mais cedo, continuará a pagar os mesmos ou mais impostos enquanto vê deles isentos quem mais tem. Aquilo que se recrimina hoje na Banca será expandido para os demais sectores empresariais. Como já sucede nos Estados Unidos, aonde a derrota de Obama nesta semana tem tudo a ver com esta guerra polarizada nos discursos políticos difundidos pelos meios de comunicação.
O que deveria preocupar os disseminadores dessas anedotas e mensagens politicamente orientadas para a tentativa de ganhar votos para a direita, é a falta de ideias concretas de melhoria da vida de todos os portugueses por Passos, Portas & Cª.
Que nos digam uma, apenas uma, proposta capaz de se traduzir em melhorias de qualidade de vida dessa maioria actualmente desesperada com cada vez mais mês ao fim do ordenado.
Se forem honestos consigo mesmos sabem que não conseguem nenhuma. Poderão arranjar mil motivos para dizer mal de Sócrates, mas serão incapazes de dizer uma única boa razão para justificar a capacidade da direita para fazer melhor.
Por isso mesmo, sabendo que a solução Passos seria bem pior do que a solução Sócrates para o futuro imediato dos cidadãos, Francisco Louçã anuncia no «Diário de Notícias» de ontem uma decisão, que terá feito refrear os entusiasmos de quem já se imagina sentado em cadeiras ministeriais daqui a seis meses: uma votação de censura não passará com o acordo do Bloco de Esquerda. Porque, como aí afirma, o Governo de José Sócrates está agora a reduzir os salários e a atacar os apoios sociais. Passos Coelho quer fazer isso, está a fazer isso, e quer fazer mais: quer vender uma parte do SNS e uma boa parte da Segurança Social.
Que os ventos de mudança venham de dentro ou de fora (quanto tempo se aguentarão Merckel, Cameron, Sarkozy ou Berlusconi à frente dos respectivos países?), a solução passará sempre por mais justiça social, por mais equidade na distribuição da riqueza e por apostas no crescimento económico na base de novas tecnologias.
Sócrates está a tentar fazê-lo, Passos promete ir na direcção contrária...

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