domingo, 15 de maio de 2011

A ESQUERDA À PROCURA DO SEU DISCURSO

Em boa verdade, pertenço àquele núcleo de simpatizantes da esquerda, que deseja a confirmação ideológica da falência do capitalismo, mas teme as consequências dessa demonstração.
Não tenho quaisquer dúvidas que se a fase actual de degenerescência do sistema já engendra dramas terríveis, traduzidos no desemprego, nas grandes migrações de fluxos humanos e no crescimento de uma xenofobia protagonizada por forças políticas de extrema-direita, a sua definitiva superação basear-se-á em revoluções violentas aonde os mais fracos tenderão a protagonizar involuntariamente o papel de vítimas indefesas. E, já entrando aceleradamente na terceira idade, essa será doravante uma das minhas incontornáveis realidades.
De qualquer forma, mesmo vendo esse comentário com tais cautelas, não posso deixar de achar bastante imaginativa a metáfora ontem emitida pelo Daniel Oliveira, quando comentava na SIC o debate entre José Sócrates e Paulo Portas: as soluções para a crise impostas pela troika do FMI/BCE/CE equivalerão ao tipo de situação, que se colocaria ao comandante de um avião em queda de altura e que, para aliviar o peso, deitaria fora os pára-quedas.
E, de facto, se a economia deveria ser gerida de acordo com a obrigatoriedade de gerar condições de felicidade (ou seja, de consumo) para a maioria das pessoas de uma sociedade, o que as receitas actuais do capital fazem é estreitar ao máximo o número dos que podem aceder aos bens essenciais, deixando os restantes submetidos a um quotidiano de privações e de frustrações, que os tornarão sensíveis aos discursos demagógicos dos populistas com que contam então os seus exploradores, para impedirem o crescimento dos focos de contestação.
O que mais deveria importar à esquerda nesta altura seria a forma de conseguir desviar essa atracção perversa dos desvalidos pelos populistas, que nada lhes dão, e os fizessem militar numa mudança positiva para a maioria deles...

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