Introdução
Quem me costuma ler não tem dúvidas quanto à enorme admiração que tenho por António Costa, o profundo respeito que me merece Jerónimo de Sousa, a volúvel condescendência com que olho para Catarina Martins, a veemente antipatia suscitada por Rui Rio e o atávico asco provocado por Assunção Cristas. Quanto a Marcelo assumo a desconfiança de quem se sente numa espécie de fábula do escorpião ajudado a atravessar de uma margem para outra, e sempre expectante quanto ao momento em que dele virá a picada fatal.
Estas opiniões situam-se no terreno das emoções, mas vou doseando-as, na medida do possível, com o exercício da Razão, que trave os riscos de tomar a realidade, não pelo que é, mas pelo que deseje ver concretizado.
Todas estas conceções foram, uma vez mais, confirmadas durante a recente crise, que ainda pressupõe a possibilidade remota do governo demitir-se.
1 - O admirado António Costa
António Costa confirmou o sentido de responsabilidade com que assume o cargo de primeiro-ministro, reiterando tudo quanto lhe conhecêramos à frente da autarquia da capital. Sem nunca perder de vista o objetivo fundamental da sua missão - aliar o desenvolvimento do país com a redução progressiva das injustas desigualdades - abanou os portugueses com uma evidência, que só não vê quem não quer: será possível prosseguir no rumo de sucessivos êxitos socioeconómicos empreendidos nos últimos três anos e meio com o apoio da maioria parlamentar, mas sempre evitando dar passos mais ambiciosos do que as pernas permitem.
Embora as direitas usem o argumento de estar vinculado à governação de José Sócrates - próprio de quem outro não têm! -, distingue-os um óbvio traço de carácter. Se ambos estivessem numa partida de poker, o antigo primeiro-ministro seria o jogador ousado, sempre ao ataque, na expetativa de vir a ter na mão um royal flush, com que pudesse concretizar as expetativas criadas em quem entusiasticamente o apoiou. A resultar, essa audácia fá-lo-ia equivaler-se ao matador de touros a dar voltas infindas à praça sob uma chuva de confettis, serpentinas, chapéus e soutiens das aficionadas. Confrontando-se, porém, com mãos de cartas desfavoráveis - como as provocadas pela crise dos subprimes e seus efeitos - o resultado seria funesto, secundarizando tudo quanto de positivo acumulara nos quatro primeiros anos da governação.
António Costa, ao invés, tem os pés bem assentes no chão. Sabe o quão adverso é o ambiente à sua volta. A imprensa hostil, o ódio dos que se sentiam donos disto tudo, e deixaram de o ser tanto quanto almejariam, as instituições europeias apostadas em prosseguir soluções, que sabe erradas, e até mesmo um racismo larvar de quem se incomoda por ter no comando quem ostenta um tom de pele mais escuro do que os seus preconceitos admitem.
É provável que António Costa se considere um social-democrata, condição ideológica distinta da minha, que continuo a assumir-me plenamente socialista, à luz da análise marxista sobre quais as classes sociais hoje em contraditórios despiques entre si. Mas, nestas circunstâncias, os seus objetivos e as estratégias para os alcançar são, de longe, as que melhor a elas se adequam. Daí que os tempos confirmem a admiração que me levam a expressar-lhe o meu incondicional apoio.
O que não sucede obviamente com os líderes, que aqui abordarei nos textos seguintes.
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