sexta-feira, 3 de maio de 2019

Quando uma votação denuncia os desvios identitários dos cúmplices dos dois lados


É possível que, daqui a muitos anos, as direitas continuem a agitar o papão em que querem transformar José Sócrates ao exigir-se-lhes que digam algo de politicamente substantivo, e lhes mingue a capacidade para tal. Só partidos de direita sem coerência são capazes de, ao mesmo tempo quererem menos custos no aparelho do Estado, e, por mero oportunismo político, decidem colar-se ao Bloco, ao PCP e aos Verdes na aprovação do que bem sabem vir a constituir doravante um pesado encargo para o Estado.
Alguém acreditará que o PSD e o CDS pretendam ver beneficiados os professores em particular, e os funcionários públicos em geral, que tanto maltrataram quando constituíram um governo decidido a ir muito além do que a troika exigia?
Noutra vertente será que, demonstrando nada terem aprendido com a História, essas classes profissionais, e os partidos das esquerdas, que dizem defender-lhes os interesses, estão dispostas a promover o regresso das direitas à governação? É que, se o Partido Socialista sempre se mostrou comprometido com uma conduta responsável, melhorando equitativamente a vida dos portugueses no seu todo, sem pôr em causa o equilíbrio das finanças públicas, vemos os outros partidos da (ainda) maioria parlamentar a negarem alguns dos seus valores identitários para se deixarem condicionar por interesses exclusivamente corporativos. Ou será que o Bloco e o PCP já não acreditam que o sol, quando nasce, não deve ser para todos, brilhando mais para uns do que para quantos ficam na sombra?
A demagogia com que as direitas agitam o papão Sócrates só tem equivalente na usada - e abusada! - pelas suas cúmplices das esquerdas, quando agitam o argumento do dinheiro canalizado para o reequilíbrio do sistema bancário. Será ele desnecessário nesta fase da nossa História em que as condições para derrubar de vez o sistema capitalista estão longe de se encontrarem reunidas? Ou consideram possível proclamar a breve trecho a vitória dos explorados e oprimidos? Se assim acham deveriam mostrar-nos onde eles se mostram dispostos a essa mudança de regime, já que as sondagens tendem a demonstrar, que os seus ataques aos socialistas em nada os vêm beneficiando, e só podem dar fôlego às tais direitas, que rapidamente se poriam a infernizar a vida aos que agora julgam tudo possível a ponto de arriscarem tudo perder.
Na idade madura, que é a minha, muito desejaria ainda voltar a assistir a uma Revolução, que me fizesse acreditar em amanhãs que cantassem a curto prazo. Mas, hélas!, isso ainda  não é possível, sendo lamentável que hajam mários nogueiras ou joanas mortáguas a não quererem entender quão nocivos estão a ser para quem muitos direitos e melhores rendimentos têm ainda que conquistar, conquanto os alcancem sem porem em causa a sustentabilidade das contas do Estado. A tal História, que muitos porfiam em esquecer, é fértil em exemplos de quem se estendeu ao comprido, quando quis apressar demasiado o passo para chegar mais depressa à miragem, que julgam divisar lá ao longe...

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