quinta-feira, 23 de maio de 2019

Os papões, que o não são!


Alturas há em que se justifica ser pessimista. Stefan Zweig ou Virginia Woolf, por exemplo, levaram esse estado de alma até ao suicídio, quando julgaram fatal a expansão nazi a todo o mundo ocidental. Walter Benjamin deixou-se morrer no mesmo desespero junto à fronteira espanhola. Mas, quando se acicatam as feras de extrema-direita, fazendo-lhes crer que estão numa dinâmica irreversivelmente vencedora, os media fazem um péssimo serviço à Democracia, porque são evidentes os sinais em sentido contrário. Ou quando empolam a importância dum «marketeiro» vindo de além-Atlântico, a quem Trump correu da Casa Branca por se julgar titereiro de tal bufão, e se viu desempregado, ansioso por encontrar quem lhe financie a ambição egocêntrica. Bannon ainda não entendeu, que os farsantes, seja em Washington, em Roma ou em Budapeste, nunca gostam de partilhar o palco com ninguém, muito menos com quem, se acoitando na sombra, julga assim aparentar uma importância, que não tem.
Os media, porém, empolam as possíveis «vitórias» de Farage em Inglaterra e de Marine Le Pen em França, omitindo que, num caso não chegará a um terço dos votos expressos, e no outro nem sequer a um quarto aspirará. Por que dar importância a quem conjugará contra si o desfavor maioritário de quem vota?
Há, igualmente, o caso holandês. Dava-se a extrema-direita como séria candidata à vitória e, afinal são os trabalhistas a vencerem, renascendo das cinzas a que o tenebroso Dijsselbloem quase os reduziu, antes de deles se demitir pela porta pequena. Quem imaginava que, depois de Portugal, da Grécia e da Suécia, também a Espanha e a Holanda se viessem a consolidar como eixos do ressurgimento das esquerdas europeias?
E mesmo em Itália, onde Salvini também vencerá com um terço dos votos expressos, haverá que contar com a recriação do Partido Democrático, afundado nos anos recentes a indigente percurso, mas a reaparecer como esperança para milhões de italianos confrontados com a incapacidade do atual governo em resolver-lhes o abismo entre as aspirações e a realidade cinzenta em que vivem.
Não admira que as direitas em Portugal estejam tão nervosas, que Nuno Melo implore aos seus fiéis para irem votar alegando a certa grande participação do que designa por «outros». Ou que Paulo Rangel invoque todos os argumentos, inimagináveis de tão torpes, para iludir o destino traçado no domingo. Rui Rio, ciente do desastre prenunciado por sucessivas sondagens, já vai avisando os putativos concorrentes para a sua intenção em não se demitir.
Quer a partir de segunda-feira, quer depois de findo o ciclo eleitoral em outubro, as esquerdas só têm de ser sensatas e inteligentes. O que as possa unir é muito mais importante do que quanto as faça divergir. E, como António Costa lembrou, no jantar-comício de ontem em Setúbal, é muito mais determinante para os portugueses, o fazer do que em seu alegado nome protestar...

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