segunda-feira, 6 de maio de 2019

Um rio que seca


Eu sei que não era fácil a tarefa imposta a Rui Rio pelo tremendo trambolhão suscitado pelo voto do PSD na Comissão Parlamentar, que acatou as diretrizes de Mário Nogueira quanto à recuperação total do tempo de serviço dos professores. Como dar o dito pelo não dito sem perder a face, sobretudo depois de ter sido extremamente ruidoso o silêncio a que se impusera nos dias anteriores? Era natural, que o ouvíssemos com a mesma curiosidade dedicada a Martim Moniz se nos contássemos entre os mercenários contratados por Afonso Henriques para conquistar Lisboa aos mouros em 1147. Rio estava entalado, muitíssimo entalado!, e reconheço alguma perversidade voyeurista na expetativa com que aguardei pela sua intervenção.
Ela defraudou-me as expetativas, porque ainda julguei possível existir um pingo de honestidade intelectual, que o levasse a dizer o quanto sempre prezara os equilíbrios orçamentais nas finanças públicas pelo que a posição conjunta com o CDS, o Bloco e o PCP fora um erro a corrigir de imediato. Replicaria, assim, o flic-flac de Cristas pela manhã, mas fá-lo-ia, porventura com maior elegância. Ora não foi nada disso que sucedeu!
A opção do entalado demonstrou quão lhe é minguada a inteligência ao não perceber duas coisas essenciais: por um lado que não poderia eximir-se às perguntas dos jornalistas convocados para que lhes lesse a declaração sob pena de se lhe acentuar os tiques autoritários; mas pior ainda foi exceder-se na argumentação contra António Costa, recorrendo a tal exagero que misturou incêndios de há dois anos, com nomeações de familiares, ou roubo de armas em Tancos com o aluimento da estrada de Borba. Fazia assim a patética exibição de quem, por total falta de argumentos, se punha a esgotar a artilharia disparando em todas as direções na esperança de ver alguma munição acertar no poderoso e bem defendido inimigo. Como quase todos os comentadores - mesmo desafetos ao governo - reconheceram, sobressaiu a incipiência de Rio em dar substância ao argumento da inverosimilhança dos custos enunciados pelo governo. Como se eles não estivessem mais do que corroborados por múltiplos analistas. Desmentiu-os como pode, mas não disse como, nem porquê nem em quanto. Nesse sentido comportou-se como um típico advogado apostado em destemperar-se na retórica por saber bem demais quanto lhe faltavam fundamentos para defender o indefensável. No fundo de nada lhe parece ter servido a formação académica em Economia, já que para o combate político utiliza a gritaria descomunal a exemplo, afinal, de Assunção Cristas ou Nuno Melo, de que, em tempos, o julgaríamos diferente. Na tarde de ontem Rui Rio pôs-se a jeito para ter o troco, que merece...

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