Há três anos e meio pressupus que existiria uma enorme dificuldade a ser enfrentada pelo novo executivo socialista: a de fazer implementar o seu programa e estratégia perante a obstrução, nuns casos passiva, noutros ativa, dos muitos diretores, chefes de departamento e outros responsáveis intermédios infiltrados nos postos-chave pelos partidos das direitas durante os muitos anos da sua desgovernação. Boicotes, sabotagens e outras malfeitorias feitas nos segredos dos gabinetes da Administração Pública seriam de prever.
Muitos desses atos terão acontecido, mas o governo soube-os ir minimizando sem que transparecessem para a opinião pública mais do que alguns sinais, não explicados como tendo tal origem. Mais evidente foi a profusão de notícias sopradas para os jornais e televisões de pequenos factos, que denotavam a insuficiente rapidez com que ia evoluindo a correção da herança deixada pelos ocupantes anteriores, e empolados para parecerem de gravidade muito acima da que mereceriam.
Ao dar com a notícia da Operação Stop de Valongo na manhã de ontem voltei à inquietação formulada em novembro de 2015: logo dois dias depois de uma grande vitória do PS nas eleições europeias alguém da Autoridade Tributária decidira uma ação, que sabia capaz de gerar um enorme sururu público. Fez, pois, todo o sentido que António Mendes, secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, prontamente reagisse para pôr cobro ao escândalo e logo anunciasse exemplar investigação para definir quem decidira uma intervenção em nome do Estado, sem que houvesse qualquer orientação da tutela para a executar. Um vírus, quando se torna particularmente lesivo, tem de levar com a pronta ação dos antibióticos e este é caso em que eles plenamente se justificam. Não só para punir exemplarmente quem avançou para tal iniciativa, mas, sobretudo, para que, quem seja tentado a imitá-lo, saiba com o que possa contar.
Uma vez mais o governo dá provas de se dar ao respeito junto de quem tudo faz para pôr em causa a sua legitimidade!
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