Uma das reflexões urgentes a operar na esquerda europeia será a da conversão da classe operária à extrema-direita. Essa realidade é bem evidente em França, com a dinastia Le Pen a ganhar apoios aonde outrora eram os comunistas a prevalecer.
Com a modernidade, que fechou fábricas e fez emergir a mão-de-obra emigrante mais barata, muito desse operariado passou a adotar a ideologia dos taxistas e começou a hostilizar quem melhor poderia defender os seus interesses de classe.
Essa mudança de comportamento também se nota em Portugal, ainda de forma incipiente, mas já percetível na forma «paciente» como os mais desfavorecidos têm sido alvo das piores tropelias do governo e permanecem tolhidos de medo, salvaguardando-se em mitos urbanos explorados demagogicamente por pasquins como o «Correio da Manhã», que tudo pretende explicar à conta da suposta pesada herança da governação Sócrates.
Vale a pena recordar que, há um ano, o anterior primeiro-ministro conseguira de Merkel e das instituições da troika o assentimento para um programa de apoio muito semelhante ao obtido por Rajoy para Espanha. O chamado PEC IV traria consequências gravosas para a vida dos portugueses, mas nunca chegaria à contínua provação agora sofrida com a agenda ideológica de Passos, Relvas & Gaspar.
É nesse sentido que nunca será demais recordar o papel decisivo assumido pelo Bloco de Esquerda e pelo Partido Comunista, enquanto «idiotas úteis» à estratégia da direita, que viu, enfim, a oportunidade para implementar este verdadeiro PREC de sinal contrário, baseado num «capitalismo científico» já suficientemente demonstrado como ineficiente e criminoso noutras latitudes.
As vitórias francesa e (esperamos) grega poderão criar as condições para uma recomposição da esquerda em torno dos seus valores originais, mas seria bom que fossem marginalizados os que nela apostam no sectário princípio de «quanto pior, melhor!».
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