Esta semana foi pródiga em indicadores elucidativos quanto ao funcionamento das economias, que mais nos interessam. Nomeadamente a da Alemanha que, pelas consequências colaterais, que dela nos virão afetar, é justamente uma das que mais atenção nos deve merecer .
O que os números revelam equivale a um motor com sintomas de lubrificação deficiente, e se arrisca a gripar a médio prazo. Que é aquele em que a chanceler Merkel gostaria de ver espelhada a infinita bondade da sua governação de forma a poder evitar a nível federal, a derrota eleitoral que as sucessivas votações nos landers vêm, há muito tempo, demonstrando como previsível.
Muito embora os investidores ainda se acotovelem para lhe emprestar dinheiro a rentabilidade negativa, o governo de Berlim não tem em que aplica-lo, porque o crescimento do PIB será apenas de 0,8% no final deste ano, com o indicador do segundo trimestre a revelar-se pior do que do anterior. Uma tendência, que já vinha ainda de mais atrás, como fruto de uma estratégia autista apadrinhada por uns quantos gurus incapazes de verem a realidade para além dos seus preconceitos neoliberais...
O que significa isto? A Alemanha começa a pagar os custos da imposição da austeridade pura e dura aos países da União Europeia, que ficaram sem liquidez para manter o ritmo de compras às suas empresas. E já não se trata apenas de submarinos: são as pequenas e médias empresas, que começam a sentir-se asfixiadas pela notória falta de encomendas!
Obrigando o capitalismo ao crescimento contínuo do Produto, a sua estagnação acaba por denunciar uma crise sistémica de contornos imprevisíveis.
Mas se os números alemães foram maus, os apresentados por Vítor Gaspar foram calamitosos. Quem o ouviu falar há um ano de um certo «desvio colossal», que nunca conseguiu demonstrar a propósito das contas do Governo Sócrates, fica na expetativa de o vir a qualificar a previsível diferença de dois mil milhões de euros no final do ano como resultado da quebra da receita inscrita no Orçamento Retificativo.
Tão irredutíveis na perceção da realidade quanto o memorável ministro da propaganda de Saddam, só alguns ministros de Passos Coelho ainda dizem acreditar na capacidade de cumprir o défice com que se comprometeram junto da troika!
É esta a qualidade técnica irrepreensível de tão augusta personalidade? Vítor Gaspar demonstra uma tremenda incompetência para lidar com as finanças públicas, limitando-se a cumprir o papel ideológico a que se propôs: a de reduzir aceleradamente o custo do trabalho com a imposição de uma legislação laboral, que só favorece o despedimento, a precariedade e os salários de miséria.
Que o saldo da sua passagem pelo Governo seja uma herança ruinosa, que demorará anos a recuperar, parece não inquietar a sua consciência. Por muito que emita lágrimas de crocodilo a respeito do desespero em que precipitou muitos milhares de famílias!
É por isso que, ao fim de um ano, o saldo mais relevante a atribuir a este Governo é o de se ter tornado numa gigantesca Direção-Geral de Contribuições e Impostos.
Em Lisboa e Berlim vigora uma rota suicidária, que só uma vigorosa inflexão social poderá travar...
Sem comentários:
Enviar um comentário