sábado, 30 de junho de 2012

A ESQUERDA E OS EXTREMISMOS


Enquanto decorre o julgamento de Peter Mangs, acusado de vários atentados contra imigrantes radicados em Malmö, a sociedade sueca discute a forma de contrariar o crescimento dos casos de racismo. É que as sociedades nórdicas, outrora mobilizadas para políticas de apoio às populações do Terceiro Mundo, estão a derivar para posições xenófobas, que encontraram particular extremismo nas  matanças assumidas pelo norueguês Anders Breivik.
No seu primarismo, os mais conservadores sentem-se ameaçados pela aparente invasão de estrangeiros que, por menos dinheiro, ocupam empregos de exigência mitigada até então exercidos por quem não possuía competências nem conhecimentos para os mais especializados.
É essa a razão porque a generalidade do proletariado europeu tem deslocado a sua orientação política das formações comunistas para as de extrema-direita. Um fenómeno que a esquerda ainda não soube contrariar eficazmente ao recusar-se a equacionar a exequibilidade do comportamento paternalista com que tem encarado o fenómeno migratório.
A esquerda não tem explorado com consistência o argumento  - ademais fácil de demonstrar - do papel dessa emigração na compensação do envelhecimento progressivo das populações mais endinheiradas e a necessidade de assegurar, através dos descontos nas retribuições, a sustentabilidade das pensões e reformas futuras.
Mas, por outro lado, a esquerda tem ignorado o fenómeno da delinquência para que são empurrados muitos desses recém-chegados de África ou da Ásia, despojados de conhecimentos suficientes para encontrarem trabalho remunerado.
Deixar à direita a suposta capacidade para resolver os problemas de insegurança por via da repressão ou da deportação, só facilita a propagação de um discurso populista com eco garantido nos mais influenciáveis.
O problema da emigração ainda tem de ser analisado na sua vertente religiosa, já que cresce a insatisfação progressiva de muitos dos europeus pela ostensiva ocupação do espaço público com os sinais de um inquietante proselitismo islâmico.
Ora, em vez de se limitar a defender a liberdade religiosa como dogma, a esquerda esqueceu-se de quanto muitos dos seus ideólogos novecentistas já tinham refletido sobre o assunto e concluído pela incompatibilidade entre a transcendência mística e as exigências da transformação social.
Ópio do povo, chamou-lhe justamente Lenine. E não foi porque a revolução bolchevique deu no que deu, que a referida opinião do seu inspirador deixou de ter menos fundamento.
Se contrariar o tipo de conformismo, que as demais religiões incutem nos explorados, constitui um imperativo da esquerda, quando o islamismo radical se transforma numa doutrina fascizante, ainda mais se deve intensificar aquela atitude. Nomeadamente com a intervenção ativa junto dos jovens de origem árabe ou africana, demonstrando-lhes não ser essa a via para verem respeitados os seus direitos  e satisfeitas as suas ambições.
O debate em curso na Escandinávia diz-nos respeito a todos. E sobretudo aos que anseiam por ver a esquerda eximir-se dos seus impasses e encontrar respostas estratégicas adequadas aos desafios de uma sociedade cada vez mais complexa...

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