O progresso é a mudança no sentido de uma sempre maior complexidade. Mas chegámos a um ponto em que essas mudanças ameaçam o futuro da humanidade, como o demonstra o livro de Ronald Wright, que serve de guião a este documentário canadiano produzido por Martin Scorcese.
A aceleração na tendência apocalítica surgiu há duzentos anos com a Revolução Industrial e a preocupação subsequente em melhorar continuamente as máquinas, que nos facilitam a vida. De início esses melhoramentos foram benéficos ao implicarem uma qualidade de vida como jamais fora conhecida pela espécie humana. Mas eles arriscam-se a derivarem para catástrofes , já responsáveis pela extinção de muitas das outras espécies até ao último exemplar.
Se analisarmos o cérebro humano concluímos, que ele é quase idêntico ao do chimpanzé. Passámos a utilizar software do século XXI com um hardware quase imutável nos últimos cinquenta mil anos. Mas, ao contrário do chimpanzé, não nos contentamos com o que vemos, interessando-nos pelo porquê das coisas, quando elas não se ajustam ao expetável. E assim as transformamos à medida dos nossos desejos…
Mas, questiona Jane Goodall, se somos tão inteligentes, porque fazemos tudo para que destruamos este planeta, que nos serve de lar?
Entre o fim do Império Romano e a viagem de Colombo a população mundial cresceu a um ritmo hoje repetido todos os três anos. Só que, para vivermos confortavelmente na Terra, será necessário contermos o crescimento demográfico: o planeta não aguenta o consumo de mais um bilião de habitantes. E, por isso, as consequências estão aí a cobrar os respetivos dividendos: por exemplo em Pequim a poluição tornou-se completamente insuportável.
O conceito de «capital natural» - o fornecido pela Natureza (ar, água, petróleo, minerais, etc) - permite-nos considerar que, até aos anos 80 do século XX, andámos a gastar os seus juros. Ou seja, a capacidade de recuperação da Natureza excedia a da degradação desse imenso capital.
Desde então está a ocorrer um dispêndio efetivo desse capital, muito para além desses juros. E o capitalismo selvagem só acelerou essa tendência para consumir sempre mais sem atender à preservação dos recursos naturais.
A fé no progresso tornou-se numa crença fundamentalista, que associada á liberdade total de funcionamento dos mercados, cria as condições que, outrora, conduziram à extinção de diversas civilizações. Mas, tivessem sido os Maias ou os Rapanui da Ilha de Páscoa, essas extinções tinham um impacto geográfico circunscrito. Hoje, o colapso civilizacional tem a dimensão inerente á mundialização entretanto verificada.
São as poderosas oligarquias financeiras quem estão a conduzir-nos para esse abismo. 10% da população mais favorecida não quer perdoar a suposta dívida contraída pelos restantes 90%, impedindo um reequilíbrio imprescindível para aliviar muitas das tensões, que ameaçam explodir a tremenda panela de pressão em que estamos encerrados. Por exemplo o Congo ainda mantém uma dívida colossal junto dos mercados financeiros internacionais, que impede o acesso da sua população aos bens mais essenciais, quando ela decorre do dinheiro entregue a Mobutu para o depositar depois nos bancos europeus e norte-americanos, sem que nunca tivesse sequer sido utilizado para quem legitimamente o deveria ter recebido.
Outro exemplo absurdo é o da floresta amazónica, devastada em imensas clareiras por sociedades multinacionais, que ali acederam depois de, a partir de 1982, Wall Street e a City londrina terem pressionado os governos da região, extremamente endividados, a privatizarem os seus recursos naturais.
Temos, pois, uma economia mundial em claro disfuncionamento, subjugada a sistemas de equações financeiras, que nada têm de científico por não contarem com as verdadeiras variáveis em presença: a camada de ozono, o esgotamento dos lençóis freáticos e dos minérios, os ciclos da Natureza. Variáveis imprescindíveis à nossa sobrevivência enquanto espécie.
Conclui-se que este progresso económico ilimitado num planeta de recursos limitados constitui uma verdadeira corrida para o desastre, apenas em benefício (provisório) dos grandes monopólios financeiros.
Os otimistas do progresso, como Craig Vender, ainda acreditam na possibilidade de existirem soluções na ciência: a bioengenharia poderá criar novos carburantes e alimentos de forma inesgotável e sem grandes danos ecológicos. Como se a Biologia sintética possa assumir-se como demiurga num mundo definitivamente liberto dos seus deuses. Mas, para a grande maioria dos cientistas, essa possibilidade de criação de energia a partir de algas continua a ser uma via para os oligopólios prosseguirem a ânsia de aumento exponencial dos seus lucros sem se deixarem equacionar nos efeitos que criam.
Torna-se cada vez mais evidente, que entramos numa era em que a solução será sempre a da redução do consumo. Não na grande maioria da população mundial, que já vive nos limiares da sua sobrevivência. Mas nessa minoria privilegiada, que vive na Europa e na América do Norte e foi propositadamente empurrada para a dependência de um consumo irrealista.
«Entrámos na era dos limites!», afirma a ecologista brasileira Marina Silva, que integra o crescente número de ideólogos proponentes de uma retoma do nosso destino em mãos, libertando-o do dos monopólios capitalistas, como forma de garantirmos a sobrevivência da espécie...
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