Ao conhecer a composição da equipa governativa do Partido Socialista considerei muito positiva o facto, de independentemente de se tratarem de pessoas com muitos méritos, António Costa ter convidado Francisca Van Dunem, Carlos Miguel e Ana Sofia Antunes, que representam simbolicamente a diversidade da população portuguesa, habitualmente afastada dos corredores do poder.
Esse sinal é só mais um que se acrescenta à viragem ocorrida no último mês e que quebrou um conjunto de tradições por alguns julgadas como axiomáticas. Como se quebrando a regra de existir governo sem o respaldo do falacioso «arco da governação», António Costa quisesse igualmente dar prova de ser possível a qualquer cidadão aceder a cargos ministeriais sem que obedeça ao cânone instituído ou que a direita ainda mais pretenderia estreitar. Porque a estratégia de nuno crato em privilegiar o ensino privado tinha subjacente a ambição de só vir a aceder à governação quem tivesse passado pelas lavagens cerebrais em muitos colégios e universidades de cunho marcadamente conservadores.
Muito embora o facto de ter conhecido a pobreza não constitua garante de maior clarividência - vê-se isso com o eleitorado da Frente Nacional de marine le pen em França! - há alguma razão no que Pacheco Pereira escreve na sua crónica semanal na revista «Sábado»:
«O Prémio Nobel da Economia deste ano, Angus Deaton, dizia isso mesmo quando afirmava que a experiência da pobreza dava olhos diferentes para se ver, compreender e dar importância à pobreza. Não é que todos devam ser pobres, mas quem teve dificuldades olha de um modo geral de forma diferente para as dificuldades dos outros, e isso faz muita falta na vida política demasiado liofilizada dos dias de hoje. Estes homens e mulheres conheceram essas dificuldades por terem cor na pele, serem de uma etnia diferente, ou terem uma limitação nos seus sentidos, e por isso a vida lhes foi mais difícil, e trazem consigo uma coragem especial que está antes da sua vida pública. Não precisam de a nomear, ela existe».
O que constitui uma verdadeira indignidade é a forma como outra publicação da Cofina - o seu ignóbil pasquim matinal - cuidou dessa novidade. É que, hoje em dia, até os mais truculentos taxistas terão algum comedimento a olhar para os novos governantes para os tratar de depreciativamente de negros, cegos ou ciganos.
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