quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

A nossa alegria e o azedume deles

Na sua coluna de opinião no «Público», José Vítor Malheiros diz algo que deveria ser considerado como inquestionável: “Os últimos dias deram muitas razões de alegria aos democratas. Não, não digo às pessoas de esquerda. Digo aos democratas. Àquelas pessoas que acreditam que a soberania reside no povo e que todos os cidadãos, todos sem exceção, são iguais em direitos e devem ser livres para exercer esses direitos e para beneficiar dos seus frutos.
Àquelas pessoas que acreditam que a liberdade é um valor universal e que pertence a todos por igual e não apenas aos que têm mais rendimentos, um nome de família  mais ilustre, mais instrução ou mais qualquer outra coisa.”
De facto são os democratas, que se devem congratular com tudo quanto tem acontecido, porque voltamos a viver num país onde os direitos constitucionais voltam a ser respeitados ao contrário do sucedido nos últimos quatro anos, quando o governo de passos coelho sempre apostou em implementar políticas à sua revelia.
Não admira que um antidemocrata, com maior notoriedade do que mereceria, ostente todo o seu fel noutra crónica do mesmo jornal, onde tem privilégios de última página. Essa criatura, que dá pelo nome de joão miguel tavares, não hesita em virar-se contra outros cronistas do «Público» (Pacheco Pereira, Rui Tavares) ou contra um dos seus principais jornalistas (Paulo Pena) como se eles tivessem invadido todo o espaço de opinião publicada e o deixassem, ao pobre imbecil, a perorar sozinho numa praça sitiada.
A direita anda atoleimada com a reviravolta nos acontecimentos, que nunca conseguiu imaginar possível. E por isso anda ansiosa por vislumbrar sinais de fratura entre os quatro partidos, que tornaram possível a maioria parlamentar. Com acuidade Miguel Guedes escreve no «Jornal de Notícias» algo de percetível para quem a observa de fora, mas de que ela nem sequer quer reconhecer: “Olhar para os dois lados. Aqueles que não dormem sem lançar adivinhas sobre como podem os partidos à esquerda do PS fazer oposição quando acordaram viabilizar políticas comuns, são os mesmos que não cuidam de ventilar o verdadeiro foco de tensão que sopra e aquece à direita, em lume brando, na coligação de oposição. Talvez porque seja óbvio. Talvez porque saibam que é à direita que a rutura é inevitável.”
Porque é só uma mera questão de tempo: à medida que o seu discurso bota abaixo se esgotar, e a esquerda der mostras de grande resiliência contra todas as armadilhas e obstáculos a ela estendidas, a direita está condenada ao processo do passa culpas, primeiro, e das mútuas acusações, depois. O ocaso definitivo das cumplicidades pàfistas é uma mera questão de tempo. Com o CDS e o PSD, cada um por seu lado a obrigarem-se à reinvenção das suas propostas ideológicas, depois de as verem recusadas por mais de metade do eleitorado.
Vivemos em pleno um tempo de grande alegria. Que o mesmo José Vítor Malheiros enuncia assim: “O grande motivo de alegria é (…) o fim de um Governo de patriotas de lapela e colaboracionistas no coração que se dispunha a destruir alegremente o país, pilhando o património que pudessem, destruindo o Estado e humilhando os trabalhadores, aumentando a dívida pública e recusando-se a defender o país nos organismos internacionais para não indispor os poderes.”

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