Na «Quadratura do Círculo» Pacheco Pereira fez um diagnóstico certeiro sobre a candidatura de Maria de Belém à presidência da República, apresentando-a como a responsável por inteiro do facto de não existir um forte candidato apoiado pelo Partido Socialista nesta primeira volta, e que seria naturalmente António Sampaio da Nóvoa.
Nesse sentido se marcelo vencesse logo a 24 de janeiro, esse “mérito” pertencer-lhe-ia em parte, mas caberia sobretudo à ex-presidente do PS conotada com a ala derrotada nas Primárias de 2014.
Ao ouvir essa análise foi evidente o desconforto de Jorge Coelho perante as câmaras: toda a sua postura corporal confirmou a ideia de saber quanto o interlocutor tinha razão. Respondendo-lhe com argumentação comprometida e pouco convincente.
Fica, portanto, a questão: porque a apoiou? É muito provável que os grandes nomes do PS associados a Maria de Belém - Manuel Alegre, Almeida Santos e o próprio Jorge Coelho - tenham a noção do erro em darem estamina a uma candidatura, que vai, não só contra os interesses do PS, mas sobretudo da maioria dos portugueses esperançados no sucesso da atual solução governativa. Mas, aprisionados por relações de amizade, terão contribuído para que se manifestasse a vaidade da candidata, completamente incapaz de se bater com marcelo onde ele pode, efetivamente, ser derrotado: no plano das ideias, sobretudo nas do futuro do país.
Há alturas na vida em que, entre a simpatia pessoal e a sensação de se dever algo a alguém, se devem sobrepor os valores mais elevados de superior interesse coletivo. É que, se por hipótese académica acabassem por ir à segunda volta, marcelo e Maria de belém só se poderiam contrapor na dimensão das respetivas vaidades e do vazio de ideias.
Felizmente essa hipótese torna-se cada vez mais improvável: apesar de contar com metade do tempo de antena de marcelo na antevéspera o discurso de Sampaio da Nóvoa durante a entrevista à SIC teve muito mais substância e foi bastante mais empático do que o do seu rival da direita.
Singularmente marcelo está a repetir os erros cometidos na mesma altura em que foi candidato a Presidente da Câmara de Lisboa contra Jorge Sampaio: perante o nada ter para dizer ao eleitorado, está a concentrar-se no lado formal da propaganda, como se ela bastasse para prender a atenção de quem o ouve, distraindo quem preferiria saber com que comportamento político irá contar.
O facto de ter surgido num cenário “presidenciável”, como se já tivesse ganho e a eleição de 24 de janeiro fosse mera formalidade, ele comete um pecado que o imaginário português costuma criticar sob a forma de um conhecido provérbio: o de já se estar a contar com o ovo no dito cujo da galinha. E talvez aí ele tenha perdido mais um número significativo de votantes.
É crível que nestes quarenta e poucos dias que nos separam do momento de depositarmos o voto na urna, e apesar dos favores da comunicação social à candidatura apoiada por passos coelho e paulo portas, muitos outros votantes orientem o seu voto para o único candidato que Pacheco Pereira reconhece em consonância com o novo ciclo político: António Sampaio da Nóvoa.
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