Passada semana e meia sobre a derrota da Frente Nacional nas eleições regionais, há quem respire de alívio no Hexágono: no final a esquerda e a direita continuam a partilhar a liderança de todo o território, graças à reação salutar de milhões de eleitores, que decidiram pôr de lado as suas preferências partidárias e concentraram o voto na preservação do que lhes pareceu essencial.
Poderei dar fé do meu inabalável panglossianismo, mas os quase 7 milhões de votos conseguidos pela extrema-direita não me assustam por muito que eles pareçam ter uma base de sustentabilidade maior do que a outrora conhecida pelo pai le pen ou, anteriormente, por poujade.
Fenómenos desse tipo, ou crescem de uma forma exponencial, como sucedeu com o fascismo italiano ou com o nazismo - que utilizaram para tal uma estratégia de violência agora menos possível nas atuais circunstâncias sociais e políticas! - ou incham até à sua máxima expressão e começam depois a esvaziar. Tanto mais que a Frente Nacional chegou a esta altura eleitoral com o doping dos atentados terroristas do mês anterior.
Acredito que muitos dos que se entusiasmaram com a possibilidade de elegerem um criptofascista para as suas regiões e os viram derrotados, voltem a ponderar na possibilidade de reverterem o voto para quem, entre a esquerda e a direita tradicional, possa representar melhor as suas aspirações. E, tal como houve uma súbita transição de votos do Partido Comunista francês para a Frente Nacional, não é despautério enunciar a vontade de ver a mesma volubilidade ocorrer no sentido inverso. Até porque, apesar de existirem condições ideais para ver ali reproduzidos os fenómenos Syriza ou Podemos, a França ainda não contou com uma extrema-esquerda capaz de sair da sua natureza grupuscular.
As lições que a esquerda, sobretudo a socialista, deverão reter dos resultados de 14 de dezembro é a falácia de prosseguir com políticas quase passadas a papel químico das que a direita aplicaria. A História é fértil em exemplos de casos de escolhas do produto genuíno pelos eleitorados, quando a esquerda se metamorfoseia em simulacros da direita.
É por isso que aumentam as vozes dos que reclamam uma mudança significativa no PS francês, a começar pela definição de quem se apresentará como seu candidato às eleições presidenciais de 2017.
«Tout changer» é a palavra de ordem, que começa a ganhar expressão nas hostes ainda lideradas pelo erro de casting que foi François Hollande. Porque o melhor presente que se poderia dar a marine le pen nessas eleições seria confrontar-se com os mesmos de 2012. E o que a França em particular, e a Europa em geral, menos precisa, é de uma extrema-direita forte no país, que melhor representa os ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, que asseguram a sua matriz.
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