As eleições espanholas revelaram-se uma deceção para os que esperavam dela ver a nomeação de um novo governo de esquerda capaz de se juntar aos de Portugal, da França, da Itália e da Grécia numa frente europeia anti austeridade.
É certo que Rajoy perdeu 3,5 milhões de votos, e nem sequer conseguiu chegar aos 30%. E que os seus representantes no Congresso, somados aos do outro partido da direita, o Ciudadanos, também ficam longe dos 176 necessários para alcançar a maioria absoluta.
O que estas eleições trouxeram, pois, de substantivo foi a concretização de mais um país governado autocraticamente pela direita, que se rendeu ao respeito pelas regras da democracia parlamentar.
Mas a esquerda revela parca inteligência na forma como está a gerir a nova situação: Pedro Sanchez consegue ser o líder socialista com o pior resultado eleitoral do Partido desde a instituição da democracia. E, porque teme mais quem se situa à esquerda do que à direita, já avisou que não está disposto a governar com o apoio do Podemos.
Por seu lado o partido de Pablo Iglésias, que se tornou maioritário na Catalunha e no País Basco, além de ter superado o PSOE em Madrid, onde Sanchez era cabeça-de-lista, também não soube aproveitar o exemplo dos nossos comunistas e bloquistas, que, na noite eleitoral de 4 de outubro, decretaram o fim do governo da direita. Pelo contrário, no discurso de celebração do seu resultado, o líder do Podemos endereçou mais ataques ao PSOE do que a qualquer outro dos adversários políticos.
Convenhamos que seria lícito imaginar alguma inteligência nas esquerdas espanholas e a capacidade de aprenderem com o vizinho ocidental. Mas ainda paira por ali o sectarismo dos que se julgam capazes de esmagar o vizinho de trincheira sem prestar atenção aos que se preparam para tomar a iniciativa no outro lado do campo de batalha.
Estamos, pois, perante dois exemplos diametralmente opostos de estratégias de sobrevivências dos partidos socialistas e sociais-democratas: Costa compreendeu que o desejo do eleitorado em se ver livre de passos e de portas, era tal que o diálogo estabelecido à esquerda se lhe afigurava como natural.
Pô-lo a funcionar com eficiência, e com permanente vontade de negociação em torno dos mínimos denominadores comuns, poderá gerar uma dinâmica de crescimento de todos e um acantonamento da direita nos seus preconceitos ideológicos, que constitui resposta animadora para o futuro de toda a esquerda.
Pelo contrário, a estratégia do PSOE parece evoluir numa lógica suicida, que não imita ainda a do PASOK grego, mas para lá caminha, porque recusa-se a aceitar o desejo de setores sociais cada vez mais latos em experimentarem novas soluções governativas com os movimentos emergentes que podem surgir como delas representativos.
Não é que, como se viu com o Syriza, sejam bem sucedidos numa transformação demasiado apressada, mas o resultado poderá saldar-se pela substituição dos que não souberam adequar a retórica e as práticas socialistas aos novos tempos e se condenaram à obsolescência.
Com a sua estratégia bem sucedida Costa poderá ter criado as condições para uma renovação da esquerda portuguesa, polarizada em torno do PS, mas nele não se esgotando.
Aqui ao lado, o PSOE parece tão obcecado em não perder mais espaço para o Podemos, que com a recusa de nele ver um parceiro de governação, arrisca-se a constatar a sua progressão, condenando-se á inevitável grupusculização...
Sem comentários:
Enviar um comentário