Interessa falar de ilegitimidade política. Não tenho o assunto por desnecessário. Pelo contrário.
A maioria dos votos expressos pelos portugueses convertidos numa maioria parlamentar que naturalmente deu eco ao desejo do povo, tem de ter presente o que é politicamente ilegítimo.
E a esquerda tem.
É politicamente ilegítimo sabermos de um país empobrecido, sabermos de uma economia que recuou mais de uma década, sabermos de um desemprego que recuou duas décadas, sabermos de um investimento que recuou cerca de três décadas, sabermos de um Estado social atacado, sabermos de milhões de pobres, sabermos de milhares de emigrantes forçados, sabermos do abandono das prestações sociais, sabermos do ataque ideológico aos pensionistas e reformados, sabermos do ataque ao coração do mundo do trabalho, sabermos da asfixia da classe média, sabermos do falhanço de todas as metas após este experimentalismo e fazer menos do que rasgar uma política de ataque aos princípios que definem a República.
É ilegítimo não ter por prioridades firmes o crescimento económico, a reconstrução de um país igual e o emprego.
É ilegítimo não devolver o roubo dos rendimentos e da dignidade aos funcionários públicos e aos pensionistas e reformados.
É ilegítimo negar o papel do Estado na criação de condições de investimento.
É ilegítimo não repor um trabalho digno, ter por admissível trabalhar-se e continuar-se pobre, ter por admissível desprezar a cultura e a ciência.
É ilegítimo adormecer perante a morte de tantos por um IVA ideologicamente assassino e não o baixar para 13%.
É ilegítimo ter uma visão de um Estado que padroniza comportamentos, que discrimina em função da orientação sexual, que continua cego perante as desigualdades de género.
É ilegítimo tolerar a pobreza infantil com uma taxa de risco de 26%.
É ilegítimo continuar na Europa a defender a Europa distante dos seus princípios fundadores sem nos batermos por Portugal.
É ilegítimo não aumentar o salário mínimo.
É ilegítimo continuar a vender o país sem vergonha e sem legalidade.
Estas são as ilegitimidades políticas que o novo Governo não tolerará.
Era bom termos uma oposição democrática, que soubesse que não se elege um primeiro-ministro, que Cavaco Silva não poder dissolver a Assembleia a República não é um constrangimento, mas uma imposição constitucional precisamente para que o PR não possa defraudar os resultados eleitorais após as eleições, que o Governo emana do Parlamento. Não temos. Foi possível ouvir no discurso de Paulo Portas na discussão do programa de governo as palavras mais indignas para quem se afirma como democrático.
Como o próprio afirmou, é da vida.
Talvez lhes passe.
O Governo enfrenta ilegitimidades políticas reais.
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