1. A distância geográfica não me privou de acompanhar o essencial dos debates parlamentares desta tarde. Embora eles não tenham sido particularmente diferentes do que deles previamente antevia: a direita dividida entre os polícias “mesmos maus” com um discurso mais raivoso (hoje foi telmo correia e paulo portas) e o polícia “menos mauzinho” (passos coelho), capaz de entreabrir a possibilidade de uma tímida abertura ao diálogo num futuro mais ou menos distante.
Por seu lado os discursos de Carlos César e de Augusto Santos Silva, mesmo com as sibilinas alfinetadas do segundo, foram de verdadeiros estadistas, que olham da varanda do poder para os inconformados arrivistas, novamente reduzidos à condição de parlamentares minoritários.
Com o seu quê de paternal, César e Silva falaram para os abespinhados oposicionistas, lembrando-lhes os requisitos da Democracia e deixando-lhes subliminarmente o conselho para que sejam menos crispados e mais colaborantes.
À medida que se sucedem as sessões parlamentares, é cada vez mais abissal a diferença entre a qualidade dos deputados à esquerda, todos eles focalizados na necessidade de se solucionarem os grandes problemas nacionais e os da direita, que não parecem pensar noutra coisa, que não seja nesse seu passado de que se sentem cada vez mais distantes.
2. Embora tenha conhecido o seu período económico e financeiro menos mau, quando teve de aceitar, a contragosto, a relevância do consumo propiciado pelos vetos do Tribunal Constitucional, a direita continua a diabolizá-lo como origem de todos os males.
Não o consumo dos ricos, que esse é por ela prezado como natural e inquestionável. Mas as aspirações a padrões de vida mais desafogados por parte dos pobres e remediados, que acusa de despesistas e de estarem acima das suas possibilidades.
Nestes últimos dias a direita tem sido fértil em repetir a acusação ao governo do PS, que mais não seria do que a reedição do de Sócrates nesse mesmo “pecado”, quando sabe perfeitamente onde esteve a origem da crise de 2011: no comportamento criminoso de banqueiros, que a causaram e, depois, tudo fizeram para lhe recolherem os perversos benefícios.
Desonesta, esta direita nem sequer consegue aceitar quão em contraciclo se encontra no momento em que o próprio Banco Central Europeu está a preparar medidas capazes de fomentarem o consumo dos povos europeus como forma de combater a deflação e estimular o crescimento. Mas esta direita já demonstrou não ser capaz de ver além do que a sua quase cegueira permite.
3. Regressando ao tema dos 12 500 enfermeiros emigrados nos últimos sete anos há ainda um dado elucidativo a acrescentar: na OCDE em cada mil habitantes há 8,6 enfermeiros, mas em Portugal esse indicador desce para 6,2.
Dá, pois, para concluir que só a aposta da direita na degradação progressiva do Serviço Nacional de Saúde pode explicar essa condenação de tantos jovens obrigados a partir para emigração, sem usufruírem o direito de terem uma vida digna na terra onde nasceram.
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