sexta-feira, 5 de julho de 2019

Guantanamo: onde caiu o véu da hipocrisia


Em setembro de 1991, quando nem oito meses haviam decorrido desde a sua investidura como presidente do Haiti, Jean-Bertrand Aristide, foi derrubado por um golpe de Estado, que se traduziu numa sangrenta repressão sobre a população, confrontando-a com o regresso das piores práticas dos tontons macoutes do tenebroso Papa Doc.
Desesperados, muitos milhares de haitianos meteram-se em barcos e procuraram chegar aos Estados Unidos, que tinham na Casa Branca o pai Bush. Nas águas do Caribe multiplicaram-se as mortes dos que viram as frágeis embarcações afundarem a pique sem que houvesse quem as socorresse. Tratassem-se de cubanos escapados da ilha de Fidel de Castro e outra seria a atitude da Coast Guard. Como não o eram foi precisamente para a ponta sul de Cuba, que se viram direcionados enquanto prisioneiros sem quaisquer direitos, nomeadamente o de recorrerem a advogados.
O estatuto da Base de Guantánamo como prisão fora da jurisdição das leis norte-americanas viria a replicar-se com os prisioneiros para ali transferidos sob a acusação de serem membros da Al-Qaeda. Para quem é tão pródigo em condenar os métodos ditatoriais de regimes ditos comunistas este reverso guantanamiano bastaria para denunciar-lhes a hipocrisia. Porque nenhum tribunal validou suspeições em muitos casos esclarecidas como falsas ou exageradas. À luz da legislação internacional, que tem em Haia as instituições representativas, o comportamento norte-americano em relação aos presos em causa constitui manifesto crime, que só o poderio imperialista impede ser sancionado.
Uma reportagem liderada pelo prestigiado jornalista norte-americano Arun Rath ilustra a prepotência da Casa Branca e do seu Departamento da Justiça ao focalizar-se na triste sina do iemenita Mansur al-Dayfi, que Obama entregou ao governo sérvio em julho de 2016 para que o mantivesse em  semiliberdade muito vigiada, e que não vê condições para retomar a normalidade da sua existência após um longo cativeiro de dezasseis anos.

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