segunda-feira, 15 de julho de 2019

A linha divisória entre a decência e a indignidade


A Lei de Newton sobre a equivalência entre as ações e as reações faz sentido na Física, mas também revela singular correspondência nos fenómenos políticos. Por isso podemos evocar muitos exemplos de revoluções, que se radicalizaram até à dimensão cruel dos regimes por elas derrubados, e vice-versa, reações exageradas para contrapor aquilo que os seus promotores consideraram como ruturas inaceitáveis com os seus valores e interesses.
Trump serviria de contraponto ao facto de o antecessor ter beliscado os interesses do setor da saúde com o Obamacare e, sobretudo, pela azia dos seus eleitores por terem suportado um não caucasiano na Casa Branca durante oito anos. Bolsonaro corresponderia à reversão das políticas de Lula em prol dos mais desfavorecidos. E, porque puxaram as respetivas sociedades para extremismos tão excessivos, não me admiraria que viessem a ser sucedidos nos próximos atos eleitorais por Bernie Sanders ou Elizabeth Warren no primeiro caso e pelo regressado Lula no segundo (trocando as grades da prisão com o cada vez mais desmascarado Moro).
Vem isto a propósito do tristemente célebre artigo racista de Fátima Bonifácio, que começou por merecer pronta rejeição por quem o considerou justamente execrável, mas agora vai sendo recuperado por alguns paladinos da direita, que lamentam intimamente uma sacudidela tão para a esquerda de valores, que gostariam ver normalizados e até avalizados pela comunidade académica, e se aprestam a querer convencer-nos de que o argumentário da criatura não seria assim tão detestável. Em poucos dias João Miguel Tavares (o dileto amigo de Marcelo), Henrique Monteiro e José Adelino Maltez vieram à liça defender o indefensável.
Registemos tais adesões cientes de existir uma linha de fronteira entre a decência e a indignidade e ela estabelece-se entre quem verbera ou quem apoia a autora do texto. E Tavares, Monteiro e Maltez colocaram-se no lado dos que, sem surpresa, se confirmaram no campo da desonra.

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