terça-feira, 30 de julho de 2019

Não serei eu a verter uma lágrima por uma sobrestimada coleção


Não tenho grandes estados de alma relativamente à possibilidade de se vir a perder a Coleção Berardo acaso os bancos, que a mandaram arrestar, decidirem escamoteá-la das mãos do Estado e a quiserem vender. Muito embora tenha obras interessantes ela peca por banal, quando comparada com as que podemos apreciar nas grandes capitais europeias. Comparem-se as obras disponíveis em Belém com as expostas no Centre Pompidou, no Reina Sofia ou no Tate Modern e temos de reconhecer como estamos a falar de patamares completamente distintos.  Não se pode esquecer que a motivação para a constituição desse acervo sempre foi o da especulação, por muito que quem se incumbiu da compra das obras na sua primeira fase fosse pessoa de inequívoco bom gosto e alguns dos seus curadores tenham procurado maximizar a sua divulgação com investimentos irrisórios.
Quando José Sócrates decidiu pôr o Estado a pagar as despesas de conservação de tal património tinha uma excelente intenção: apesar do que Museu do Chiado ou a Fundação Serralves já representavam, o país não contava com uma coleção de Arte Contemporânea de nível internacional, que justificasse o turismo cultural de quem proviesse de outras origens. Poderia estar aí um ponto de partida para que Portugal viesse a integrar o circuito europeu das grandes exposições e atraísse um tipo de visitantes diferente do que procura as praias, o surf ou a boa comida. Mas a realidade manda reconhecer que a coleção Berardo não só condicionou o projeto pensado por António Mega Ferreira para o CCB como serviu, sobretudo, para a promoção publicitária do especulador madeirense, que ganhou com ela anos a fio de boa imprensa.
A acontecer, a eventual dissolução da coleção, poderá dar a oportunidade a quem tutela a Cultura de regressar ao ponto de partida tecendo uma estratégia consistente, que alie a promoção dos artistas nacionais e seja criteriosa na aquisição do que o mercado global da arte prodigalizar. Até porque os anos vindouros tendem a descentralizar-se do eixo atlântico e a focar-se nas propostas estéticas vindas da Ásia ou de África.

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