É provável que Rui Rio e Assunção Cristas andem insones com as mais recentes sondagens, mormente a subscrita pela Pitagórica. O PS à beira da maioria absoluta, o PSD com menos de 22% e o CDS com apenas 6% deverá justificar a ambos o temor de se verem apeados das respetivas lideranças logo na noite de 6 de outubro. Mas, provavelmente, estas sondagens catastróficas até lhes serão muito úteis, porque bastará que superem os resultados das europeias - 21,94% e 6,21% respetivamente - para alegarem ter-se iniciado o caminho da recuperação depois de terem atingido o patamar mais baixo. E, na realidade, até nem lhes será difícil superarem os mínimos de maio dado o esgotamento da dinamite com que a Aliança de Santana Lopes e o Basta de André Ventura se anunciaram, iludidos com o breve lampejo dos respetivos rastilhos. Acaso supere os 24,4% de 1976, Rio até foge ao estigma de ter tido o resultado mais magro em legislativas, objetivo ainda mais fácil de alcançar por Cristas que ultrapassará facilmente os 4,4% de Lucas Pires e de Adriano Moreira.
Para o futuro governo até nem vem mal ao mundo que Rio e Cristas continuem a ser os rostos da oposição à direita. Ambos fragilizados dificilmente encontrarão sucessores, que se disponham a agarrar o testemunho. Passos Coelho serviria apenas para comprovar a lei de a História se repetir como farsa depois de ter-se revelado trágica. Luís Montenegro é acéfalo por trás da retórica verborreica e do sorriso parvo. Nuno Melo teria imensa vontade de lá chegar, mas todos lhe apontam a responsabilidade de um desvio para a extrema-direita, que reduziu significativamente o espaço político do seu partido.
Marcelo tem razão quando antevê uma longa travessia do deserto para as direitas e propõe-se substitui-las dificultando tanto quanto possível o trabalho do próximo governo. Com tal padrinho, ausência de rivais com peso para os derrotar e uma votação, que talvez não lhes seja tão madrasta quanto se anuncia, talvez não se justifiquem as eventuais insónias de Rio e Cristas. Mas ambos bem poderão esperar sentados pelo dia em que desejariam ver-se de regresso ás cadeiras do poder.
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