quarta-feira, 10 de julho de 2019

História? Não! Antes pequenas estórias do nosso quotidiano!


«Podemos? Não, não podemos.» foi o nome da crónica com que Fátima Bonifácio pretendeu dar uma caução académica ao discurso xenófobo e racista, que vemos exposto sem eufemismos pelo Basta ou pelo PNR. Confiante em que a levavam a sério apenas pelo facto de Ricardo Costa e os diretores de informação dos demais canais televisivos lhe darem tempo de antena nalguns debates, a autora do texto viu caírem-lhe em cima milhares de indignados opositores, que a forçaram ao silêncio quando dela quiseram obter algum comentário sobre tal reação pública.
O próprio diretor do «Público», que acedera a inserir tão nefandas opiniões nas colunas do seu jornal, teve de dar a mão à palmatória reconhecendo que a liberdade de expressão tem limites manifestamente ultrapassados pelo discurso de ódio da sua putativa colaboradora.
Nos próximos tempos poderemos ver-nos poupados a que ela ou Rui Ramos, que se filia na mesma linha ideológica, venham prosseguir o esforço pela banalização do mal inerente às suas conhecidas posições extremistas. É que, nas últimas décadas, as faculdades dedicadas aos saberes humanísticos viram-se atulhadas de gente decidida a ocupar-se da História já não tanto na perspetiva dos vencedores - porque a Revolução do 25 de abril os derrotou! - mas nela buscando uma persistente desforra. Conciliando essa promoção de ultradireitistas, a quem por exemplo o «Expresso» confiou a responsabilidade por alguns livros de História seccionados em várias semanas,  com a repetida emissão pela RTP (agora no canal Memória) dos repulsivos programas de José Hermano Saraiva, quem tem estado por trás desse esforço procura dar aos portugueses uma leitura pervertida de quem foram, quem são e, sobretudo, serão, manipulando-lhes a identidade coletiva de forma a desviá-los das tentações esquerdistas de há quarenta e cinco anos e que se vêm mantendo, eleição após eleição, através da quase contínua constatação de votarem em mais de 50% pelos partidos dessa área.
Enquanto as esquerdas se dividiram, permitindo o facilitado acesso das direitas ao poder, esses setores andaram mais descansados. O problema foi o do acordo histórico de há quase quatro anos, que possibilitou a pacificada governação desta legislatura quase terminada. Daí o recurso a todos os argumentos populistas, que julgam recetíveis pelas camadas mais correiodamanhãzadas camadas do eleitorado. Até ver o tiro de Fátima Bonifácio saiu-lhe pela culatra e deve-a ter deixado merecidamente combalida.
A ela ou a Rui Ramos, como sucedeu com José Hermano Saraiva torna-se absurda a sua designação como «historiadores». Não é a História com h grande o que eles praticam ou praticaram. Na realidade eles são meras personagens de episódicas estórias da nossa vida coletiva.

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