sábado, 27 de julho de 2019

Lições óbvias, mas tão difíceis de aprender


A notícia da rutura das negociações entre o PSOE  e o Unidos Podemos para viabilizar um sólido governo das esquerdas no Palácio de la Moncloa coincidiu com um debate num canal televisivo francês sobre as razões porque os partidos sociais democratas estão a decair, se não mesmo a desaparecer (como ocorreu na Grécia com o PASOK), do mapa político europeu, permitindo o predomínio das direitas, desde as mais liberais (França, Alemanha, Holanda) até às de extrema-direita (Hungria, Polónia ou Itália).
Pedro Sanchez e Pablo Iglésias  revelaram-se incompetentes para chegarem a um acordo, um porque se julgou autossuficiente e confia nas sondagens, que lhe perspetivam grande subida de votos (mas que podem fugir-lhe até ao final do ano!), o outro, porque insiste naqueles erros tão frequentes no nosso Bloco de Esquerda e que um tal Ulianov qualificou de «doença infantil».
Muito embora os líderes das esquerdas europeias pudessem olhar para o exemplo português e dele colher proveitosos ensinamentos, preferem ignorá-lo e repetirem estratégias condenadas ao fracasso. Inebriados no convívio amistoso com o grande patronato e a alta finança, não perceberam que os derrota a falta de contacto direto com as populações trabalhadoras, passando a ser por elas tidos como detestáveis elites.
Há quem julgue possível ganhar eleições com uma intervenção contínua nas redes sociais, como se tivesse deixado de fazer sentido o exercício da política à moda antiga. Criem-se uns apelativos canais youtube e umas páginas  no Instagram, no Facebook ou no Whatsapp e esqueçam-se as visitas a mercados e a bairros problemáticos, a estações multimodais e a centros sociais. Como se iludem! Porque nada substitui a interação com os eleitores, apresentando-lhes propostas consistentes para que vejam melhorada a qualidade de vida, mas  também os oiçam, porque não é difícil comprovar que, além de acorrerem às urnas de voto para elegerem os políticos em que mais confiam, as pessoas estão desejosas de falar, de comunicar as suas preocupações e aspirações. Acaso as esquerdas esqueçam este imperativo de cidadania deixam as redes sociais contaminarem-se com fake news  e outras formas de manipulação das consciências em que as direitas se revelam muito mais competentes como se viu nas vitórias de Trump ou de Balsonaro.
Daí que as esquerdas portuguesas tenham a responsabilidade histórica de persistirem nas convergências futuras, construindo um modelo capaz de confirmar o terror enunciado por Poiares Maduro que, numa entrevista ao «Público», confessa o temor da mexicanização do país. E não é por causa da corrupção do PRI, que o antigo ministro de Passos Coelho se assusta, mas perante a possibilidade de um duradouro exercício do poder pelas esquerdas, já que aquele partido foi absolutamente maioritário no grande país da América Central entre 1929 e 2000.
Se souberem ser inteligentes os partidos da nossa ainda atual maioria parlamentar podem aliar forças para transformar o país durante muitos mandatos. Assim saibam Sanchez e Iglésias imitá-los nesse objetivo...

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